Texto: Brigadeiro Luís Almeida Ribeiro
As rédeas actuam por intermédio da mão do cavaleiro. Este deve ter o máximo cuidado em não surpreender o cavalo e empregar as rédeas sem prejudicar nem corrigir a acção das pernas. Insisto neste ponto e repito, porque tenho notado em mim e noutros cavaleiros que o seu emprego e combinação de acção com as pernas não se faz como seria para desejar. Se hoje consigo não estabelecer luta entre a perna e a mão no sentido lateral, no sentido longitudinal já não me acontece assim, tirando muitas vezes excesso de impulsão dado pelas pernas, o que é prejudicial no ensino e vai com certeza estabelecer confusão no espírito do cavalo.
A rédea, como a perna, tem um momento único de actuar. Por aqui se vê a dificuldade de, mesmo numa lição individual, indicar qual a rédea que o cavaleiro deve empregar. Quando chega a indicação já é tarde. O campo de acção das rédeas é vasto.
Rédea directa é aquela que actua do lado do movimento
Rédea contrária é aquela que actua do lado contrário ao do movimento.
Rédea de oposição é aquela que opõe as espáduas à garupa.
Rédea de abertura (rédea directa)
Seu efeito: o cavalo curva o pescoço para esse lado, dá a ponta do focinho para o mesmo lado e sobrecarrega a espádua desse lado. As pernas actuam igualmente. O cavalo percorre com as pernas a mesma pista que percorreu com as mãos.
Rédea contrária (à frente do garrote) sobrecarrega a espádua do lado contrário. As pernas actuam igualmente. O cavalo percorre com as pernas a mesma pista das mãos.
Rédea directa de oposição actua paralelamente ao corpo do cavalo. Opõe as espáduas à garupa deslocando as espáduas para o mesmo lado e a garupa para o lado contrário. A perna do lado da rédea actua activamente; vem em reforço da rédea.
Rédea contrária de oposição (atrás do garrote).
O cavalo roda sobre o centro de figura. Opõe as espáduas à garupa. Desloca as espáduas para o lado contrário e a garupa para o lado donde a rédea actua. A perna activa é a do lado contrário. No emprego desta rédea está a chave do avanço do ensino do cavalo. Se esta rédea actuar na direcção da anca contrária, o cavalo é deslocado todo para o lado contrário. É a rédea que actua sobre a massa do cavalo.
A rédea de abertura e a rédea contrária actuam sobre o antemão; as rédeas directa e contrária de oposição, sobre a garupa; esta mesma rédea actuando na direcção da anca contrária actua sobre toda a massa do cavalo. Como a sua acção tem por limites a rédea directa de oposição e a rédea contrária de oposição atrás do garrote, alguns deram-lhe o nome de rédea intermediária. Actua simultaneamente, e para o mesmo lado, sobre as espáduas e sobre a garupa. Perna activa a perna do mesmo lado. A outra perna tem uma função importantíssima. É ela que atira o cavalo para diante é ela que o impulsiona.
A outra rédea tem um papel regulador; a outra perna actua ora passivamente ora activamente porque, como já disse, é essa perna que impele o cavalo para diante. Fixando: A perna do lado do movimento é sempre a perna impulsionadora.
As acções das rédeas foram explicadas supondo o cavalo em andamento. Durante o trabalho o comprimento do pescoço varia segundo a posição, assim varia também o comprimento das rédeas.
Muitos cavaleiros leram em vários livros mão fixa, a perna empurra o cavalo para cima da mão. Leram, é um facto, e ouvem dizer mas não digerem dando o seguinte resultado: Montam a cavalo, separam as rédeas, como é agora moda, tomam um comprimento de rédea e assim trabalham. Resultado: o cavalo fica metido numa forma.
Mão fixa é a mão que não executa movimentos involuntários ou inúteis; por mão fixa não se deve entender a mão imóvel, pelo contrário ela deverá deslocar-se conforme as necessidades. A mão deve estar permanentemente em contracto sua com a boca do cavalo e, como tal, não há comprimento de rédea pré-estabelecido para este ou para aquele trabalho, visto que o comprimento variável do pescoço é que regula o comprimento da rédea.
Trabalhar com rédeas compridas equivale a dizer trabalhar o cavalo com o pescoço estendido. Deve-se trabalhar com as rédeas o mais comprido possível. Assim o cavalo, não lutando com a mão, menor fadiga experimenta e não se lhe tiram faculdades. O comprimento do pescoço varia conforme a posição. A rédea comprida dá uma liberdade ao antemão tão grande produz tais benefícios, que só a prática nos mostra.
Como disse, endireito o cavalo pela frente e agora, já posso acrescentar, endireito-o com rédeas contrárias de oposição, sensivelmente na direcção do ombro do lado oposto (rédea direita, por exemplo, actuando na direcção do ombro esquerdo).
Os cavalos endireitam-se pela frente com as rédeas e não com as pernas. No caso indicado, o emprego da rédea direita para endireitar o cavalo diz-nos que o cavalo ia com a garupa na esquerda e eu, empregando a rédea direita contrária de oposição, vou colocar-lhe as espáduas à frente da garupa. A perna esquerda é a perna activa e daqui sai a confusão de muitos julgarem que estou endireitando o cavalo com a perna esquerda, empurrando a garupa para a direita. O que é necessário é não haver acções opostas de rédea e perna, contrariando os seus efeitos.
O cavalo no começo do ensino não marcha francamente para diante, sendo necessário entalá-lo entre as rédeas e entre as pernas e finalmente entre as rédeas e pernas. Impulsiono com as pernas e a mão recebe e dirige essa impulsão. É a perna que obriga o cavalo a tomar o contacto com a mão e não é a mão que vem procurar o contacto com a boca do cavalo. A própria conformação do cavalo assim nos conduz a tal raciocínio. É o pós-mão, pela sua disposição e poder, que impulsiona toda a massa.
Para colocar o cavalo em contacto com a mão, obrigando-o a estender o pescoço, posso agir de duas maneiras: Ou dou um comprimento de rédea fixo e obrigo o cavalo a procurar o contacto com a mão, ou tomo de início um contacto suave com a boca do cavalo e obrigo, com as pernas, o pescoço a estender-se.
Esta última maneira é a que tenho seguido e dela bons resultados tenho obtido.
(In “Ensino do Cavalo”)