Texto Luísa Lima
Desde tempos imemoriais que houve a necessidade de uma indumentária que marcasse a elegância do cavaleiro na sela. Apesar de ter sido utilizado pela nobreza em primeiro lugar, o traje Português de equitação foi posteriormente várias vezes adaptado, já pelos cavaleiros em geral, não pertencentes à nobreza.A sua importância foi, desde então, marcada pela sua constante presença em muitas feiras tradicionais Portuguesas – dos quais é exemplo típico a Feira da Golegã – que não seriam o mesmo sem o porte orgulhoso dos cavaleiros, belamente equipados com os seus trajes.Esta popularidade do traje nas feiras tradicionais introduziu neste várias modificações, de acordo com a moda e as necessidades. Consequentemente, hoje em dia existem hipóteses criativas para todos os gostos, tanto em termos de estilo como de usabilidade. O traje de equitação, tal como é hoje, inclui apenas três peças obrigatórias e comuns ao vestuário da mulher e do homem: calças escuras, camisa branca e chapéu escuro.
O traje completo inclui também uma jaqueta e um colete, usado por baixo. Algumas pessoas não utilizam a jaqueta quando está demasiado quente, limitando-se a usar o colete por cima da camisa.Muitos usam um sobretudo muito grosso – a samarra – quando está muito frio, tal como nas alegres mas geladas noites da feira da Golegã, que se realiza em Novembro. Este é um sobretudo tradicional do Alentejo, constituído por camadas; a gola é feita de pêlo de raposa. A samarra tradicional é muito comprida, cobrindo as pernas até ao joelho ou até mais abaixo, mas também há quem a use à altura da cintura.O traje é todo confeccionado em fazenda, que pode ser mais ou menos grossa em função das peças. As cores mais populares são o preto, o cinza, o castanho e o azul escuro. No entanto, alguns cavaleiros (principalmente mulheres) utilizam também o bordeaux e o beige. A maioria usa a mesma cor para as peças de cima e de baixo, mas há excepções à regra: alguns cavaleiros escolhem usar cores diferentes.
Tanto os homens como as mulheres costumam usar botins e polainas. Estas podem ser de dois estilos: as “polainas de pregos”, ilustradas na fotografia acima, cuja popularidade é crescente apesar de terem a sua origem no meio da tauromaquia; e as “polainas à portuguesa”, que se fecham com atacadores de couro corridos no lado externo da polaina. Tanto os botins como as botas à Portuguesa têm um tacão ligeiramente mais alto do que as botas de montar tradicionais, assim como uma sola mais larga para formar uma reentrância onde a espora encaixa. As botas de cano alto são também usadas, mas mais raras hoje em dia.
A diferença principal entre o traje masculino e o feminino é a saia: esta é cortada a meio, abrindo uma racha à frente de forma a que a mulher possa montar escarranchada. A utilização de calças por baixo da saia parece ter sido inspirada por um episódio ocorrido na corte em 1766, quando a Rainha de Portugal, D. Maria Vitória, quebrou todas as regras ao montar em estilo moderno – ou seja, escarranchada, em vez de montar à amazona, como era prática comum para as mulheres da época. Tanto os homens como as mulheres usam suspensórios, dado a única peça semelhante a um cinto usada com o traje é uma faixa de seda decorativa. A camisa pode ter mais ou menos renda, de acordo com o gosto de cada um. Tanto a jaqueta do homem como a da mulher costumam ser ornamentadas com alamares (dado que, por regra, a jaqueta não é fechada, deixando o colete ou a renda à vista).
O chapéu da mulher difere do do homem por ter “pompons”. Tradicionalmente os cavaleiros compram os seus chapéus na “Chapelaria Coelho”, assim apelidada pelo facto de o chapéu ser feito de pêlo de coelho. Esta localiza-se, mais uma vez, na capital do cavalo Portuguesa, a pequena vila da Golegã.
O cabelo da mulher é geralmente entrançado ou penteado num puxo e coberto com uma rede. É também costume utilizar-se uma fita de seda preta. Os brincos tanto podem ser brincos de pérolas simples como as mais tradicionais arrecadas de Viana. Estes são brincos feitos à mão com fio de ouro muito fino e têm a sua origem na cidade nortenha de Viana do Castelo. São também tradicionalmente usados noutros trajes típicos, tais como os dos cantares populares do Norte de Portugal.O traje Português de equitação é a extensão perfeita do cavalo Lusitano. É inegável que o elemento perfeito na união do cavalo com o estilo de montar tradicional Português é o garboso cavaleiro ostentando um traje pensado ao pormenor. O traje é o espelho do orgulho e carinho que o povo Português tem pela sua tradição equestre e pelos cavalos.
Na elaboração do traje, chapeleiros, alfaiates, sapateiros e outros artesãos perpetuam as técnicas passadas de geração em geração, contribuindo todos eles para a verdadeira instituição que é o traje Português de equitação.
(Fotografias tiradas na Golegã, Alenquer, e Algarve, em feiras públicas, de 2000 a 2005).