Fonte: “L’Information Hippique”
Os Mestres da Equitação Marialva pode ser considerado como o maior nome da equitação portuguesa. Foi usado, no séc. XVIII, por um mestre tão brilhante que os melhores equitadores contemporâneos se gabam ainda hoje, e muito justamente, de praticar a equitação “à Marialva”.
D. Pedro José de Alcântara António Luís de Meneses, 4º marquês de Marialva, o mais célebre da dinastia, cumula a longevidade de Pierre d’Abzac, o ‘standing’ social de Newcastle e uma reputação equestre comparável à de La Guérinière, ao qual só a cede no plano didáctico, não tendo tido a felicidade de formular a genial lição das espáduas ao centro, nem de beneficiar do lustro de tudo o que então vinha de Versalhes ou de Paris, ou do brilho da língua veicular.
Porque os méritos de Marialva são ilustres, o seu nome deve figurar entre os dos mestres de primeira plano.
Neto do general D. António Luís de Meneses, nasceu em 1713, e pertencia a uma das maiores famílias titulares e mais célebres do País, ainda aparentada à casa reinante. Foi, como o seu avô, oficial general na arma de cavalaria.Em 1715 tinha começado a funcionar a coudelaria real de Alter do Chão, à qual se juntou, em 1757, a de Portel.
Marialva foi nomeado pelo seu estribeiro-mor em Abril de 1770 (no ministério de Pombal) e ficou-o sendo até 1797. Com a idade de 84 anos, cedeu esse cargo a seu filho, D. Diogo José Vito de Meneses, visconde de Vila Nova de Cerveira, que se tornou o 5º marquês de Marialva por morte do pai, dois anos mais tarde, falecendo ele próprio, em 1803, com a patente de tenente-general. Deixava, por sua vez, o cargo de estribeiro-mor ao seu próprio filho, D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho, 6º e último marquês de Marialva, general de brigada, destituído em 1821, pelos liberais, reintegrado por D. João VI, em 1823, e falecido em Paris no fim desse mesmo ano, sem descendência.O grande Marialva (1713-1799) era um equitador fora de série, para o qual a equitação académica à francesa não tinha segredos. Praticando o trabalho de pilões, conhecia profundamente toda a arte de bem cavalgar.
Ensinava tão bem um cavalo, com uma tal perfeição e um tal a-propósito, “que o animal lhe obedecia até ao limite das suas possibilidades”. Declara Manuel Carlos de Andrade, equitador de S.M. Fidelíssima, na sua magnifica obra publicada em Lisboa em 1790: “Luz da Liberal, e Nobre Arte de Cavallaria”, dedicada ao futuro rei D. João VI, então príncipe do Brasil.
Este livro e o seu autor devem ser tratados a propósito de Marialva, pois não há a certeza de que este último não seja o autor ou antes o inspirador da obra, pois é pouco provável que Marialva tenha feito tais elogios à sua própria pessoa.Como quer que seja, trata-se duma obra dum luxo comparável ao das mais belas edições de Pluvinel, Newcastle ou La Guérinière. É um in-folio de 454 páginas contendo 93 águas-fortes da maior beleza, onde diferentes artistas representaram a cavalo o rei, os príncipes, Marialva (este último seis vezes), diversos momentos do ensino com pilões, etc. e ainda a esgrima a cavalo e os jogos equestres, dois quais um muito curioso, em que os cavaleiros procuram tocar-se mutuamente com peque bolas de couro, contra as quais se protegem com um escudo passado no braço esquerdo.
Os caracteres e a impressão são igualmente esplêndidos, justificam o custo dos mil exemplares da tiragem: 6.588.000 reais. A ordem de pagamento foi assinada pela própria rainha D. Maria I.Nas gravuras que dizem respeito, Marialva, já idoso, é apresentado em cavalos diferentes, executando várias figuras de ensino. Se o artista retractou tal qual era, tratava-se de um belo homem, de rosto enérgico, de estrutura sólida, muito direito na sela e com uma bela posição a cavalo.