A Tradição da Casa Veiga (Parte II)
No decorrer dos tempos, muitas foram as coudelarias que utilizaram cavalos Veiga para beneficiar as suas éguas e, entre outros contam-se as dos Coimbra, Quinta da Cardiga, Ortigão Costa, Francisco Malta, Miguel Quina, Irmãos Carmo, Pinto Barreiros, Casa Cadaval, Norbertos, Trancos, Francisco Patrício, Joaquim Ferreira, Manuel Campilho, Alfredo Conde, Correia Lopes, Marcelino e José Tavares, Arsénio Cordeiro e inevitavelmente, a de Mestre João Núncio, grande amigo da família Veiga e que veio a falecer subitamente na própria Quinta da Broa e em cuja coudelaria viveram os extraordinários garanhões “Sultão”, “Pincelim” e “Pérola”.
Manuel Veiga reconhece a determinação dos garanhões Veiga em muitas Coudelarias portuguesas e refere, a propósito, sobre a venda dos seus produtos.
“Desde há longa data, que nesta casa se tem vindo a procurar realizar uma criteriosa selecção e, como regra fundamental, temos vindo a impor como política base da nossa exploração a recusa de venda de éguas a qualquer criador, ou mesmo cavaleiro.
Há que ter em conta que a primeira selecção feita às fêmeas da nossa coudelaria é realizada à desmama, por volta dos oito meses e a definitiva cerca dos três anos de ida, após serem montadas e analisadas as suas características próprias, o seu caracter e funcionalidade morfológica.
Este trabalho deve ser preservado pois é o garante do próprio cavalo Veiga, facto que nos leva a recusar em absoluto a venda de éguas. Aliás e como é lógico, quem pretender um cavalo Veiga tem na nossa casa a oportunidade de o adquirir.
Existem porem uma série de coudelarias portuguesas às quais temos vendido ultimamente alguns garanhões e, a título de exemplo citamos a dos Vinhas, Arsénio Cordeiro e Ervideira, sem esquecer que, hoje em dia, grande parte das coudelarias portuguesas possui garanhões com o nosso ferro.”
Foi no toureio que o cavalo Veiga atingiu a sua maior expressão e não poucos foram aqueles que alcançaram como ele grandes êxitos em praças portuguesas e espanholas; de salientar apenas alguns deles na impossibilidade de o fazer na sua totalidade: Mestre João Núncio, José Casimiro de Almeida, António Luis Lopes, Vasco Jardim, Simão da Veiga, José Casimiro Júnior, Fernando Salgueiro, Manuel Conde, David Ribeiro Telles, Pedro Louceiro, Frederico Cunha, Manuel Jorge de Oliveira, Conchita Cintron, António Raul Brito Pais e ultimamente Manuel Vidrié e Álvaro Domecq.
Factores alheios à casa Veiga têm actuado de forma a que o número de cavalos desta coudelaria utilizados pelos cavaleiros tauromáquicos portuguesas não seja na actualidade tão numeroso como o próprio criador o desejaria e, Manuel Veiga comenta deste modo tal situação: “Eu lamento imenso, como criador, que os cavaleiros tauromáquicos não apareçam nas praças de toiros com mais cavalos de ferro Veiga. Isto porque talvez exista alguma retracção da sua parte em empatar muito dinheiro em cavalos, possivelmente acrescido do facto do número de potenciais interessados, nacionais e estrangeiros, em adquirir garanhões com o nosso ferro ter vindo a aumentar progressivamente. Seria contudo do meu total agrado que aparecessem agora, tal como na época do Sr. João Núncio, uma série de cavalos Veiga a tourear com cavaleiros portugueses, embora nos últimos tempos, o “Opus” de Álvaro Domecq e o “Neptuno” de Manuel Vidrié, que levam o nosso ferro, tenham tido esplêndidas prestações nas suas inúmeras actuações em praças espanholas.”
Ainda na sequência da conversa abordámos a questão do momento actual do toureio a cavalo em Portugal, manifestando o nosso interlocutor deste modo o seu ponto de vista:
“Parece-me que o toureio a cavalo se encontra numa boa fase, existindo uma meia dúzia de cavaleiros que se têm vindo a destacar, embora se peque por um excesso de repetição de estilos, uma imitação algo acentuada entre cavaleiros, o que não sucedia há anos atrás, quando cada qual procurava interpretar o toureio da sua própria forma, o que indubitavelmente era mais interessante para o público e aficcionados e o que, paralelamente, enriquecia o toureio a cavalo.
Todavia, estes factores que reputo de passageiros, não invalidam o momento óptimo que atravessa o toureio equestre em Portugal.”
Já ao entardecer cruzámos os largos portões da Quinta da Broa, após a vivência de magníficos momentos de beleza entre a estupenda eguada e ganadaria brava que pastam livremente nos seus terrenos.
Trouxemos connosco a firme convicção que o ferro Manuel Veiga permanece fiel ao seu bom nome, tradição e casta pela representatividade dos seus actuais garanhões “Bailador II” e “Dardo II” e “Danúbio”.
Uma última palavra de prestação de homenagem à família Veiga na sua perseverança e arte em contribuir de modo decisivo para a melhoria da raça lusitano que não deixou indiferentes