Considerações sobre a Equitação Portuguesa
Texto de : José Padeira (Director de Globalcaballos.com)
Portugal terá dois representantes na disciplina de ensino na Olimpíada de Verão. A criação de cavalos Lusitanos e a sua importância. Os concursos internacionais de saltos portugueses muito apreciados pelos espanhóis. O concurso completo em Portugal…Em Portugal, nosso país vizinho, pratica-se como em quase toda a Europa o Concurso Completo de Equitação. Apesar dos resultados lusos nesta disciplina, Portugal não alcançou este ano a qualificação olímpica. No entanto, conseguiu dois lugares individuais no ensino, e foi por muito pouco que não obteve a qualificação nos saltos de obstáculos.
PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA NA OLIMPÍADA DESTE VERÃO
Os cavaleiros lusos Miguel Ralão Duarte e Carlos Pinto, serão os representantes de Portugal nas provas de Dressage em Hong Kong e ainda por cima com cavalos Lusitanos criadas no país: a Lusitana Oxális da Meia Lua. Uma fêmea muito interessante, que tem uma funcionalidade, mas que possivelmente não executa tão bem como o PRE os movimentos altos. Os cavalos Lusitanos estão a ter um papel importante no ensino tal como os nossos cavalos PRE. Os portugueses sabem, que se os cavalos Lusitanos forem bem treinados, têm boas aptidões para a dressage. Pouco a pouco se irão conseguir melhores resultados.
OS CAVALEIROS TAUROMÁQUICOS ESPANHOIS PROCURAM CAVALOS LUSITANOS
Não há duvida que vários cavaleiros tauromáquicos espanhóis procuram em Portugal cavalos lusitanos (o melhor exemplo que temos é o cavalo castanho escuro Cagancho de Hermoso de Mendoza). País famoso pela arte Marialva, em que não nos podemos esquecer de nomes míticos como Núncio, o apelido Veiga, Alfredo Chaves Tinoco, José Bento de Araújo, Manuel Casimiro de Almeida, Fernando de Oliveira, Vitorino Froid, Joaquim Bastinhas, António Ribeiro Telles, Paulo Caetano, João Salgueiro, Rui Salvador, Rui Fernandes, João Moura Ribeiro Telles e João Moura. Moura.Em Espanha, um dos melhores cavalos de ensino foi o garanhão Lusitano castanho Guizo, que conquistou a medalha olímpica de prata em Atenas 2004 com Juan Antonio Jimenez.
NUNO OLIVEIRA O GRANDE “MESTRE” PORTUGUÊS
Também há que dizer que Portugal tem uma grande tradição no ensino clássico dos cavalos. Talvez o grande mestre mais recordado seja Nuno Oliveira, com a sua demonstração constante de arte e saber clássico perfeitamente representado. Em Espanha em algumas ocasiões – recordo-me em concreto de uma demonstração no Club de Campo de Madrid – tivemos a oportunidade de contemplar este grande mestre. É impossível falar da história equestre, sem recordar este grande mestre português.
VICENTE CALDEIRA: UM HOMEM DE CAVALOS, UM SEGUIDOR CONSTANTE DOS TRATADOS FRANCESES DE EQUITAÇÃO E UM CRIADOR DE CAVALOS POR EXCELÊNCIA
A equitação em Portugal, ocupou sempre um lugar importante pela sua ligação à nobreza. Se Portugal como país do ultramar teve uma grande relação com a Grã Bretanha, não podemos esquecer a sua ligação à equitação francesa. Não me posso esquecer que Vicente Caldeira citava sempre o grande mestre cavaleiro D’Orgeix e o seu grande interesse pela leitura das grandes escolas francesas. Caldeira, não era um grande conhecedor do idioma francês, e não foi há muito tempo que me recordava do seu filho Paco, e as suas intermináveis leituras de tratados de equitação francesa com a ajuda de um dicionário. Falando de Vicente Caldeira, temos que recordar que ele foi sem sombra de dúvida o protagonista na criação de cavalos de desporto em Portugal. Muitos dos cavalos criados por Caldeira estiveram nas competições mais importantes do Mundo, sendo que, recordamos a Can Can com o seu filho Paco, que participaram na Olimpíada de Munique em 1972.Dizia este criador da “Extremadura portuguesa” (Vila Boim-Elvas), que os cuidados de maneio da sua éguada conferiam uma grande voluntariedade aos seus produtos, sem esquecer o puro sangue irlandês do Estado, The Convert, que cobriu várias éguas da sua coudelaria. E já que falamos sobre França, há que referir o cavaleiro olímpico português, Manuel Malta da Costa, que reside e monta naquele país e do qual falaremos mais adiante – foi possivelmente o cavaleiro português da actualidade mais representativo em saltos de obstáculos da equitação portuguesa. Malta da Costa, é considerado como uma importante referência, no Norte de Espanha.Falando mais sobre o ensino, há que recordar o Campeonato da Europa do ano passado, e no qual Portugal competiu com uma equipa formada por Miguel Ralão Duarte / Oxalis, Daniel Pinto / Galopiin de la Font, Pedro Torres / Riopelo e Carlos Pinto / Notavel Puy du Fou. O resultado final não foi impressionante (11º por equipas), e o conjunto que vai às olimpíadas este ano classificou-se em 26º lugar na reprise do Grande Prémio (66,25%) e acedeu ao Grande Prémio Especial com a nota de 64,24%.
CAVALEIROS ACTUAIS PORTUGUESES DE SALTOS E ÊXITOS DO PASSADO
Em saltos de obstáculos, os resultados actuais não são excepcionais, sendo que, os melhores resultados pertencem à luso-brasileira Luciana Diniz.No entanto existem cavaleiros portugueses que são muito considerados e que participam em Taças das Nações. No último CSIO de Lisboa participaram António Vozone, João Azevedo e Silva, Marina Soares da Costa e Luciana Diniz. Anteriormente em Madrid a formação portuguesa esteve a cargo de Vozone, Eduardo Netto de Almeida, Marina e Luciana Diniz. Seria injusto não citar outros cavaleiros portugueses tais como Filipe Malta da Costa, o grande ganhador Luís Sabino, João Mota, Rita Ramires, Francisco Moura, João Chuva, Francisco Rocha, Miguel Faria Leal, Alexandre Mascarenhas de Lemos e o falecido cavaleiro olímpico Jorge Mathias.
MANUEL MALTA DA COSTA EM ESPANHA
Manuel Malta da Costa e Francisco Caldeira são os cavaleiros mais conhecidos em Espanha, principalmente porque viveram em Madrid depois da Revolução dos Cravos. Ambos conquistaram inúmeras provas em Espanha e eram bem conhecidos pela sua equitação eficiente e rápida nos concursos de saltos internacionais do nosso país, além de apresentarem cavalos muito bem treinados. Como é lógico, contam com muitíssimos amigos e aficionados espanhóis.
Malta da Costa deixou em Espanha, uma imagem importante, em pista como cavaleiro de alta competição e como professor com conceitos claros sobre equitação clássica.
Um facto a ter em conta é que o cavalo lazão BWP filho de Jus de Pomme, Quervo Gold, que triunfou com a norte americana Margie Engle (prata por equipas nos JEM 2006 de Aachen), foi anteriormente montado por Francisco (Paco) Caldeira no CSI de Madrid.
HENRIQUE CALLADO UM CAVALEIRO FORA DE SÉRIE
Também vimos a competir e a ganhar o excepcional e inesquecível Henrique Callado (1920-2001), possivelmente com Malta da Costa, participou em 5 Olimpíadas e dois Campeonatos do Mundo.Nas olimpíadas de Berlim 1936 os portugueses conquistaram a medalha de bronze por equipas: José Beltrão / BISCUIT, António de Funchal / MERLE BLANC e Luís Mena e Silva / FAUSSETTE.Nas olimpíadas de Paris 1924 também conseguira a medalha de bronze por equipas: Luís de Menezes Margaride / PROFOND, Helder de Souza / AURO, José Mouzinho de Alburquerque / HERTRUGO e António Borges de Almeida / REGINALD.Nas olimpíadas de Berlim 1936 José Beltrão con BISCUIT classificou-se em 6º lugar individual. Em Tóquio 1964 foi 5º Joaquim Duarte com JEUNE FRANCE. Carlos Campos foi 13º em Munique 1972 com ULLA DE LANCOME. Callado no Campeonato do Mundo de Paris 1953 ficou em 7º lugar com CARAMULO e 13º em Madrid 1954 com MARTINGIL. Com o filho de Furioso xx, JOC DE L´ILLE competiu nos Jogos Olímpicos de Tóquio e conseguiu muitas vitórias, algumas delas em Espanha. Era espectacular ver este cavaleiro.
VASCO RAMIRES, PIMENTA DA GAMA, LOBO GUEDES…
Também é muito recordado o cavaleiro português Vasco Ramires com Sir de Brossais. Pimenta da Gama sempre com o uniforme da GNR, que tanto chamava à atenção em Espanha, não esquecendo o falecido Francisco Lobo Guedes.
OS ATRAENTES INTERNACIONAIS DE SALTOS PORTUGUESES
Actualmente em Espanha, nota-se de dia para dia, o interesse dos espanhóis pelos concursos internacionais portugueses, e são sempre vários os cavaleiros que comentam o tratamento simpático que lhes é dado durante a sua estadia em Portugal. Nos últimos concursos de Ponte de Lima e Vimeiro a presença espanhola foi numerosa. O melhor português no Grande Prémio do CSI**** de Ponte de Lima foi António Vozone com Lacy Woman (0-5 e classificado em 6º). O melhor português no Grande Prémio do CSI**** do Vimeiro foi a amazona Marina Soares da Costa com Coltaire Z (4 pontos e classificada em 13º).
CHAMATIVOS COMPLETOS INTERNACIONAIS PORTUGUESES.
MENÇÃO ESPECIAL À BARROCA
Começámos o artigo com o concurso completo e vamos finalizar com esta disciplina olímpica. Referimos no início que os resultados lusos nesta modalidade não são bons, o contrário não seria objectivo. Sem dúvida, os completos internacionais que se disputam em Portugal são muito exigentes.
Os últimos na Barroca contaram com uma participação de muito alto nível e a prova de campo foi muito comentada. A ‘alma mater’ desta competição é Luis Lupi (filho) que conhece muito bem a equitação e o concurso completo onde competiu com êxito. São sempre louvados os completos portugueses do Zambujeiro, Mafra, Golegã e Alpiarça. Mesmo assim, há a referir que as provas de completo da Barroca têm uma prova de campo de relva, algo que só agora ocorre em Espanha, em Montenmedio.BONS TREINADORES…Há que referir que Portugal tem contado nestes últimos anos com treinadores muito bons, tais como Meade, Leng …ÊXITO EM BRAMHAMNo último Bramham na categoria sub 25, Duarte Seabra com Brave Heart classificou-se em 8º lugar.
Já no ano passado no Campeonato da Europa de Juniores em Avenches (Suiça), Manuel Grave com Samaritano ficou em 11º individual.
UM LUSITANO GANHADOR EM SAUMUR
Recordo-me de Francisca Chaves Ramos que com Carioca conquistou o CCI*** de Saumur (1999), com o mesmo cavalo ruço que o seu pai montou nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992).
A CRIAÇÃO DE CAVALOS DEVE SER A BASE
Tanto Portugal como Espanha atravessam situações económicas difíceis. Tentar obter nos países vizinhos bons cavalos para qualquer modalidade é muito complicado. A criação de cavalos será a nossa única solução e Portugal tem um solo (matéria sólida) a ter em conta: este deve ser o caminho.