Era uma vez um sonho…

Texto: Michelle Rosa Santos

Era uma vez uma menina de seu nome Inês Pires. Uma pequenita, de fraca figura, com 8 anitos apenas, que vivia muito perto de um centro hípico. Todos os dias, quando vinha da escola, espreitava o picadeiro a caminho de casa.Um dia ganhou coragem e pediu aos seus pais para ter aulas. Estes, humildes e trabalhadores, pediam à Inês para ter calma, que a vida não estava fácil etc etc… Mas Inês tanto insistiu que um dia a mãe lá foi saber preços e horários e lá conseguiu, a muito custo, uma “aulita” por semana.

Lembro-me de a ver chegar, sempre com uma alegria e um entusiasmo nos olhos. Naquele momento, naqueles 20 minutos de volteio, era a garota mais feliz do mundo!

O que ninguém ainda sabia naquela altura era a determinação e o talento que havia escondido naquela pequenita de 8 anos ! Um dia a sua professora convenceu-se que a pequena era diferente… Cheia de talento, com uma sensibilidade notável e com uma garra e coragem de leoa.

Bom, se isto fosse uma história de encantar… acabaria com a menina com um ou dois cavalos seus, os paizinhos a investir no futuro da jovem etc, etc, etc.

Mas infelizmente não é. Inês é hoje uma garota com 15 anos que vê o seu futuro hípico a fugir-lhe das mãos… E porquê? Porque os pais, humildes e de fracas posses, que têm filhos com um talento tão fora de série, que só visto com os próprios olhos, vêm-nos postos de lado pelo sistema. Não há dinheiro não há futuro ! Onde estão os apoios para os talentosos e os que merecem ? É a crise dizem eles…

De qualquer forma esta garota de fracos recursos ainda conseguiu ser:

• Campeã de Iniciados em 2005
• Vice Campeã de Juvenis em 2006
• Campeã de Juvenis em 2007
• Medalha de Bronze de Juniores em 2009

Foi homenageada pela Câmara Municipal de Cascais pela épocas desportivas de 2005/2006 e 2006/2007. Consegue a sua primeira internacionalização em Maio deste ano, trazendo para casa um quarto e um quinto lugar.

O sonho do Campeonato da Europa teve de ficar para o ano, pois neste não houve dinheiro.Numa história de encantar haveria patrocínios, apoios e pessoas a quererem investir na jovem amazona !

Mas os sonhos, por vezes, também se realizam.

Não haverá em Portugal, ou no mundo inteiro, um proprietário que queira viver uma história de encantar e, de passagem, valorizar o seu cavalo com uma participação no Campeonato da Europa de Dressage do ano que vem ? Um proprietário que saiba que resultados excepcionais só se conseguem com desempenhos excepcionais e que estes só se alcançam com uma fé inquebrantável.

E as empresas portuguesas, actualmente empenhadas no desafio da internacionalização, não gostaríam de ver as suas marcas associadas a uma história de encantar na qual Talento, Juventude e Competição fossem as palavras-chave ?

Não haverá ninguém capaz de dar, a esta história de encantar, um final feliz ?

P.S.: Devo referir que não sou da família da Inês Pires, nem tenho nenhum interesse pessoal neste assunto, para além do prazer que sinto, como apaixonada do desporto equestre, ao vê-la realizar a sua vocação. É que dói muito ver tanto talento desperdiçado…