O cavalo Ibérico no Europeu de Dressage
Texto: Maria Margarida Ferreira Neves
Neste Europeu de dressage e como seria de esperar, os warmblood ocuparam o posicionamento para o qual estas raças são tão intensamente seleccionadas. Os cavalos holandeses da raça KWPN (Royal Dutch Warmblood Studbook), saíram reforçados neste Europeu de Dressage em Roterdão. Com efeito, a raça KWPN conseguiu arrebatar 3 medalhas de ouro, 3 de prata e 1 de bronze (Grande Prémio, G.P. Especial e Grande Prémio Freestyle), nomeadamente através dos garanhões Jerich Parzival de Adelinde Cornelissen, Uthopia do britânico Carl Hester e Totilas do alemão Matthias Rath.
Dentro dos cavalos Ibéricos, há que dar especial destaque ao PSL Rubi e ao PRE Fuego!
Em termos de resultados, o Fuego de Cardenas (do espanhol António Manuel Munõz Diaz) obteve o posicionamento de 8º no Grande Prémio e 5º na Freestyle, o Helio II da francesa Arnaud Serre ficou em 48º no G.P., e o Cruzado de Desporto Espanhol Jade de MV em 37º no G.P..
Quanto ao garanhão PSL Rubi AR (Batial AR x He-Xila AR), de Gonçalo Carvalho, ficou em 25º no Grande Prémio e 27º no G.P.Especial, sendo o único conjunto da selecção portuguesa a ser apurado para a semi-final. A grande revelação deste Europeu foi sem dúvida o jovem e inexperiente garanhão Lusitano Xiripiti CVF (Qualificado MAC x Reboleira MTV) de Maria Moura Caetano, de apenas oito anos, que pela primeira vez participou numa competição deste nível (ficou em 36º no G.P.). Surpreendeu pela positiva, demonstrando um inquestionável talento para a modalidade. Dos cavalos Ibéricos apenas o Fuego de Cardenas ficou apurado para a final, no Grande Prémio Freestyle, onde tiveram uma prestação que merece uma referência especial. Dos dois cavalos ibéricos apurados para o G.P. Especial (Rubi e Fuego), apenas o Fuego chegou à final, no G.P. Freestyle.
Os mais cépticos, depois de consultarem os resultados, dirão que apenas um cavalo Ibérico chegou à final, no entanto, há que não esquecer que estamos perante universos de criação com métodos de selecção e escalas de produção dificilmente comparáveis. Se os cavalos Ibéricos, sem selecção na criação vocacionada para a modalidade, e no caso português, com acrescidas dificuldades económicas dos criadores, conseguem obter pontuais resultados de grande nomeada, somos obrigados a reflectir e concluir que estamos perante um efectivo de grande potencial e futuro na modalidade. Falta apenas apostar numa criação de cavalos especializada e vocacionada para o desporto, nomeadamente: a dressage; a equitação de trabalho; a atrelagem; e o toureio.
Sem o individualismo que caracteriza estes povos, há que arregaçar as mangas e estabelecer um transparente plano estratégico de actuação, dentro das raças ditas Ibéricas, que permita desenvolver um potencial de especialização.Se pretendemos investidores, há que dar garantias quanto à possibilidade de retorno pelo investimento. Estas garantias só existem quando existir uma aposta séria na certificação e na transparência!
Até lá, as raças Ibéricas continuarão no estigma do eterno potencial, com situações de pontuais sucessos, apenas possíveis devido à carolice e abnegação de alguns criadores e respectivos “sponsors”.
2011.08.23