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O Puro Sangue Lusitano como “marca” Portuguesa de Excelência

Por : David Santos Barata
Lisboa 19.06.2011

O Fado, Eusébio, o vinho do Porto, o turismo, e associados a este último o sol e as praias, são traços indeléveis de uma certa imagem que se cultivou e se promove de Portugal, em vista à sua divulgação internacional. E bem, dir-se-ia.E o mais antigo cavalo de sela do mundo, a mais reconhecida raça animal do nosso país, não deverá ela própria constituir um ponto de referência da nossa cultura, não só a nível económico, como também turístico? Não deverá ela representar uma “marca” (brand) portuguesa, por motivo da sua singularidade, antiguidade e património genético único no mundo?

Na altura em que escrevemos foi já indigitada como nova Ministra da Agricultura a Dra. Assunção Cristas, a quem se deseja os maiores sucessos na pasta e a quem se pede um olhar especial para a raça Lusitana, há demasiado tempo esquecida pelos decisores.Parece-nos imperioso que a um dos melhores produtos agrícolas portugueses seja votada uma particular atenção por parte das entidades oficiais do nosso país, no que tange à sua promoção e divulgação internacional, enquanto polo aglutinador de negócios, de atração turística, de fomento desportivo, amador e profissional.

 

Parece-nos ainda essencial que seja criada uma secção no Ministério dedicada ao Puro Sangue Lusitano, (se existe, desconhecemo-la) que se associe à APSL num esforço conjunto de promoção, divulgação e dinamização da raça.Uma pesquisa efetuada no sítio na internet do Ministério da Agricultura (http://portal.min-agricultura.pt) utilizando-se os termos “Puro Sangue Lusitano” devolveu um único resultado, uma breve nota de agenda destinada a informar da celebração do protocolo FAR/APSL/ABPSL, o que só por si é já elucidativo da atenção política que tem sido votada à raça, que tem sido vilipendiada por sucessivos governantes que não lograram ainda compreender que o Lusitano  representa sem margem de dúvidas umas das principais marcas portuguesas e uma fonte ainda mal explorada de dividendos e interesse económico. Enquanto a EPAE não for apoiada condignamente (a escolha do advérbio não é casual, note-se), EPAE que constitui a principal montra da marca Lusitano, enquanto não lhe forem garantidas as mínimas condições de trabalho, dificilmente poderemos almejar atingir um patamar de reconhecimento que de um modo tão português tão tristemente desprezamos.

Claro que depois sempre ouvimos dizer que os espanhóis cá vêm adquirir efetivos da raça, que as coudelarias brasileiras e a sua congénere associativa atravessam um período de crescimento acentuado, juntam-se, realizam leilões, os criadores interagem entre si de forma visível enquanto por cá pouco ou nada disso se vislumbra.

Custa de facto compreender como é possível que a classe governante adote uma postura tão alheada, tão “narrow minded” em face de uma realidade tão crucial e importante do nosso acervo cultural e económico e não a promova. Alguém se recorda de um anúncio de promoção turística, na televisão ou noutros media, onde apareça um cavalo Lusitano? Alguém se recorda de um programa de televisão ou difundido na internet (honrosa exceção seja feita a alguns programas de tv e web tv e aos seus autores) que tenha abordado os destinos da raça? Algum programa na RTP1 (serviço público, mas não certamente com os reality shows que transmite…) ou RTP 2, transmitido a horas decentes, e já agora, com o respetivo destaque quanto à hora da sua transmissão? Obviamente que os projetos custam dinheiro, como certamente custa dinheiro à ABPSL o seu projeto de TV. Mas não é ele indispensável como veículo promocional? Como plataforma divulgadora da sua atividade?

À APSL, enquanto associação que gere os destinos da raça,  cumpre-lhe seguir os bons exemplos, exercer pressão sobre os que decidem superiormente para que os projetos associados ao Lusitano não se quedem pelo plano das meras intenções.

É indubitável que promover-se o Lusitano como marca de Portugal é um projeto nacional e não apenas associativo, sendo que a APSL representa não obstante um indispensável veículo em vista desse objetivo, que a todos aproveitará num futuro que se deseja próximo, não se duvide.

O problema do Lusitano como marca é, por fim, um problema de perspetiva, porque muitos dos que olham para a raça perspetivam-na apenas como uma questão agrícola, que uma vez por ano lá aparece na Feira da Golegã, talvez o único evento com real destaque televisivo.

A esta perspetiva dizemos claramente “não obrigado” porque reflete apenas uma visão redutora e anacrónica.

A todos aqueles decisores que, de parceria com a APSL, pretendem (ou pretenderão…) projetar o Lusitano como marca portuguesa de excelência esses têm agora a verdadeira oportunidade para nestes tempos de crise, lançarem de modo criativo as sementes do futuro da raça Lusitana, alterando o que está mal no universo da raça, promovendo os consensos, abolindo os pequenos interesses setoriais que são prejudiciais ao interesse coletivo, promovendo a formação dos criadores em aspetos chave do processo de criação, e  apostando na divulgação do Puro Sangue Lusitano como uma marca portuguesa… Não soa bem?

*texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico*

COMENTÁRIOS:

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O artigo poderia ser melhor mas começa já pelo titulo ………. que deveria ser :O Puro Sangue Lusitano como RAÇA (e não marca) Portuguesa por excelência.

Talvez estivesse a pensar em carros …. quem sabe!Marca é para artigos, veículos etc., e não para animais, e depois, peço desculpa mas o “português” aqui escrito faz-me lembrar as novelas brasileiras que se vêem!

Lamento muito mas já li melhor e mais bem escrito …

Melhores cumprimentos.
Ana Cruz
2011/06/20

Exma Senhora

Na qualidade de autor do texto ” O Puro Sangue Lusitano como marca portuguesa de excelência” permita desde logo agradecer o seu comentário e quanto ao mesmo tecer algumas considerações.

A primeira vai no sentido de dizer que convivo serenamente com as críticas, porque elas são o risco próprio de quem assume tomar posição sobre certas matérias, havendo sempre quem concorde connosco e quem de nós discorde.

Quanto ao teor do comentário, e como é óbvio, as coisas devem ser entendidas nos devidos termos, porque senão a crítica fácil, que não abarca a abrangência do conteúdo, torna-se redutora e desprovida de sentido, porque nada aporta à discussão a não ser uma negação o que se lê, sem promover o avanço da questão sub judice. Pergunto-me se é jurista. Se o é, aprecie a questão juridicamente, mas como já respondi a um leitor do portal Equisport no Facebook, não se tratou o texto juridicamente, porque os destinatários do mesmo, na sua generalidade, não são juristas, mas antes se pensou no público em geral, que ama o PSL e para ele quer o melhor, como símbolo nacional que é.

Não se pensou, como afirma, nem em carros, nem em motas, nem em nenhum bem móvel quando nos reportámos ao PSL como marca (que alías cremos já estar inclusivamente registada). Nem sequer promovemos essa discussão, pois pretendeu-se olhar para o futuro imediato da raça e o que poderá fazer para lhe conferir visibilidade.

Parece-lhe normal que a única referência que o Ministério da Agricultura faz à raça, na pesquisa que se efectuou, se reporte a uma notícia com 7 meses? Nada se passou na raça, entretanto?O termo “marca” deve ser abrangente e como tal entendido, no sentido da notoriedade que à raça deve ser concedida, à semelhança do que se faz, como se disse no início do texto, e entre muitos outros, ao Vinho do Porto. Não é ele uma marca, um símbolo, uma referência do nosso país, internacionalmente reconhecido?

Quanto ao estilo do texto pois cada um terá o seu e o meu nada me envergonha, a não ser os comentários favoráveis de pessoas de diversos quadrantes que o enaltecem de uma forma que julgo não merecer. São, contudo, importantes incentivos que me honram.

Quanto às novelas brasileiras, e à equiparação que faz de colocar o que escrevo a par dos autores das mesmas, como Sílvio de Abreu, Gilberto Braga, Aguinaldo Silva ou Gloria Perez, só para citar alguns e onde se encontram alías nomeados ao Emmy, essa é uma honra que me faz mas que sei que não mereço. Agradeço-a contudo.

Quanto ao mais, registo a atenção que devotou ao texto e agradeço também o facto de ter manifestado a sua opinião, que, a par de qualquer outra, respeito sem reservas, sem prejuízo do que entendi rebater, quando considero que a crítica é injusta e desprovida de sentido, argumentos, ou factos consistentes que a suportem.

Sem outro assunto,
Melhores cumprimentos,
David Santos Barata
2011/06/20

Confira o registo da marca “Cavalo Lusitano” no INPI.

Caro David Barata

Há algum tempo, durante uma pesquisa sobre o turismo equestre, encontrei um estudo sueco, que continha uma análise exaustiva do mercado europeu e que continha sobre Portugal muita informação que tenho quase a certeza, é desconhecida de muitos responsáveis desta área.A Suécia que tem menos habitantes que Portugal,  tem dez vezes mais cavalos e enquadrou numa fundação toda a gestão do sector, sendo esta até a responsável pelo ensino superior e controla mesmo  o sistema de apostas hípicas, de onde obtém receitas.

Mandei esse mesmo trabalho para o Ministério da Agricultura e utilizei na altura a expressão que até doía a nossa incapacidade de pegar num produto (ai Ana)  de excelência e não conseguir levá-lo ao nível que ele merecia e sugeri até porque não utilizar a FAR de Alter para desempenhar este papel.Mas queria discordar de si um pouco. Estamos sempre a querer menos Estado, mas sempre que somos incapazes de desenvolver os projectos estamos na primeira fila a reclamar da ausência do papelo protector do Estado. De facto eu penso que o turismo equestre é um produto de tão elevado potencial e como tal de imensas disciplinas (PSL incluso) que o envolvem, que só uma estrutura de alguma dimensão o pode por nos carris. É uma constatação de que tirando alguns raros exemplos, as nossas grandes empresas tiveram origem em empresas do Estado.  E posso ainda dar-lhe o exemplo pessoal de que quando procurei junto de alguns criadores de PSL para a minha filha participar no Campeonato Nacional de Equitação de Trabalho, através da cedência de uma montada com a inerente divulgação do patrocínio, a resposta foi nula. Aliás possivelmente comungando da opinião da Ana, e ao contrário do sector automóvel onde se gastam milhões apostando em provas, os criadores tirando os modelos e andamentos pouco se preocupam em divulgar os seus produtos nos locais próprios e criando hábitos, quer a praticantes, a espectadores, a outras marcas que aqui podem divulgar as mesmas.Fomos um país de vistas largas em determinadas épocas da nossa história. Pode ser que agora encostados contra o muro, sejamos “obrigados” a olhar por cima do mesmo.

Eu gosto muito de cães de caça e por isso é que tenho 9 e comem todos os dias, mas também defendo que o PSL é uma marca que deve ser defendida e divulgada e principalmente por quem gosta destes animais. Mas dizer que uma raça é uma marca no sentido de permitir a sua identificação junto de consumidores ou simplesmente amantes, sejam de que tipo forem, não tira dignidade aos animais, antes pelo contrário, coloca-os noutro patamar de admiração e estima.E nisso estamos de acordo, há que criar as sinergias que ponham quer o cavalo lusitano, quer o turismo equestre, quer porque não,  Portugal, num patamar de excelência que a todos beneficia.

Melhores cumprimentos
António Menino
2011/06/25

Caro António Menino

Agradeço o seu comentário ao artigo e o tempo que lhe dispensou.

Dele retiro alguns argumentos, que gostaria de comentar.O primeiro  tem a ver com discordância que refere quanto à questão do Estado e do seu papel, pois na verdade talvez não discordamos tanto assim.Com efeito, quanto me reporto ao Estado e ao seu papel no que à raça diz respeito, tal advém precisamente da sua própria importância, económica, cultural, social, ao nível turístico, e por aí em diante.Não creio que o Estado possa ou deva alhear-se desse papel, que não tem que ser exclusivo mas de parceria com a APSL, e que é a meu ver de vital importância no potenciar de tudo aquilo que o PSL tem para nos oferecer.

O segundo aspeto tem a ver com a com a questão dos criadores que mencionou.Não sou criador, mas os criadores são um elemento chave da raça. Mas também acredito que sem cavaleiros não há cavalos, ou pelo menos a sua existência e utilidade reduzir-se-ia à mínima expressão.Penso, na esteira do que afirma, que os criadores vivem fechados num mundo muito pequeno e não ousam apostar num tipo de divulgação como aquele que pretendia e para o qual não obteve resposta.Desconheço as razões porque tal acontece, e porque a expressão da cedência de animais a troco de patrocínio e divulgação do nome da coudelaria não é algo muito mais visível.

Isto entronca talvez numa argumentação que utilizei no passado porque esta dificuldade de auto promoção passa também pela francamente fraca utilização das tecnologias na divulgação das coudelarias. Compare os sites portugues (onde existem honrosas excepções) com os sites dos criadores brasileiros e a resposta parece óbvia. O mesmo se diga do site da APSL e da ABPSL e quanto a isso estaremos conversados. Creio que é tudo uma questão de mentalidade que esbarra ainda em questões culturais demasiadamente enraizadas.

Obviamente que falar do PSL como marca, (que é!!) não lhe retira nada, antes enaltece a sua vital importância junto dos consumidores (conceito que poucos sabem ser um conceito jurídico definido no artigo 2º da Lei 24/96, de 31 de Julho, e já alterada, ainda que não neste particular, pelo DL 67/03, de 8 de Abril e este pelo Dl 84/08, de 21 de Maio) até porque criar cavalos passa inelutavelmente por vendê-los, pois trata-se de um negócio. Cabe aos criadores saberem promover e é nos tempos conturbados que vivemos que se verá quem terá a capacidade de se reinventar e de mostrar ao mercado.

Termino como comecei, agora reiterando os agradecimentos e devolvendo os melhores cumprimentos.

David Santos Barata
2011/06:26

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