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As Ajudas desmistificadas

Sylvia Loch

Hoje é raro ouvirmos falar sobre como o peso do cavaleiro pode ajudar ou prejudicar um cavalo. No entanto o facto de percebermos como o peso actua como ajuda pode produzir uma enorme diferença entre um cavalo que irradia harmonia, ligeireza, e aquele que foi treinado com a utilização da coesão e força.
Todos devemos perceber que quando utilizamos qualquer ou todas as ajudas (assento, pernas e mãos) existe uma deslocação ou redistribuição do peso. Assim, sempre que virarmos ou flexionamos uma articulação, flectimos ou relaxamos músculos, erguemos um braço ou deixamos descair uma perna, nos inclinamos mais para um lado ou para o outro, alteramos a direcção em que o peso ou pressão é sentida pelo cavalo.

À medida que o cavalo vai tendo mais ensino estas ajudas transmitidas pelo peso do próprio cavaleiro podem desenvolver-se até que o mais ligeiro voltar de cabeça juntamente com um ligeiríssimo afundamento do assento no arreio do lado apropriado, o relaxamento do músculo da perna ou o ligeiro aumento de pressão sobre um estribo constituem um pedido fácil de entender.

Assim é essencial que estas ajudas se complementem, funcionando em harmonia de modo a que possam produzir a reacção desejada por parte do cavalo. Nenhuma ajuda deve ser dada isoladamente.

CAUSA E EFEITO

O termo ‘ajudas através do peso’ não passa duma explicação daquilo que o cavalo está a sentir sob o arreio durante a execução de cada pedido que se lhe faz.Uma vez que a nossa cabeça pesa cerca de 6,350kg e o tronco muito mais do que isso, é óbvio que as alterações que efectuamos com o tronco afectarão significativamente o que acontece sob este.  Manter-se erecto, inclinar-se para trás ou para a frente ou ficar tipo saco de batatas, são todas posturas que provocarão enormes alterações de equilíbrio. Todavia, são frequentes as ocasiões em que estas alterações inconscientes de postura se transformam em ajudas. Em qualquer dos casos podem produzir um efeito positivo ou negativo sobre o equilíbrio do cavalo, dependendo sobre o que ele está a fazer no momento.

Por exemplo: ao cavalgar no campo a meio galope ou a galope, um cavaleiro ‘natural’ equilibrar-se-á a ele e ao cavalo correcta e automaticamente, tornando tudo fácil e natural sem sequer pensar nisso. Por outro lado, um cavaleiro menos hábil atirará o seu peso por todo o lado, colocando o cavalo sobre o antemão, arriscando uma queda. É triste quando estas pessoas não conseguem ver que é o descontrole do seu próprio peso que ameaça o cavalo.

Em Dressage deveria ser óbvio que o cavaleiro que se mantém orgulhosamente direito com ajudas discretas de perna não só incitará o movimento para diante como levará o cavalo a reunir-se e a ficar ligeiro na mão; pelo contrário, o cavaleiro molengão pode fazer com que o cavalo se abra.A redistribuição do nosso peso de formas diferentes não só exerce um efeito diferente sobre a coluna vertebral do cavalo como afectará a sua habilidade para se concentrar, influenciando toda a sua postura.Está claro que um animal como o cavalo tem sensibilidade para sentir uma mosca a pousar na garupa, é capaz de sentir o menor ajuste do peso do cavaleiro.

EQUITAÇÃO «MINIMALISTA»

Um cavalo que é continuamente montado com ajudas de peso negativas, frequentemente resultantes de excessos – aprende a ‘endurecer’ em relação às ajudas; esta é a sua única defesa contra o desconforto. O cavalo passivo pode simplesmente desligar e o cavalo mais sensível pode desenvolver defesas sob a forma de empinar ou furtar-se.

No outro extremo está o cavalo feliz e bem montado cujo treino correcto lhe permitiu sensibilizar-se para o mais pequeno ajuste.Uma vez que a força da gravidade é tão forte o bom cavaleiro aperceber-se-á que todas as alterações de peso ou ajudas devem ser utilizadas com descrição de forma a ser difícil apercebermo-nos delas.

Assim, minimizar a equitação é a chave para o sucesso. No entanto este processo de sensibilização do cavalo só se pode desenvolver correctamente se o próprio cavaleiro for consistente com todo e qualquer pedido que faça ao cavalo.Isto requer que nos eduquemos a nós próprios para nos tornamos mais conscientes de exactamente como, o quê, quando e porque fazemos as coisas. O equilíbrio é a chave da questão.

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