Calor e Stress
No processo metabólico diário do cavalo a temperatura é produzida como um subproduto. Em movimento, os músculos em acção aumentam significativamente a temperatura produzida. Os cálculos sobre a produção do calor mostram que este pode aumentar até 50% durante o exercício intenso, comparando-o, com os períodos em que o cavalo está em descanso.
Como resposta, o cavalo aumenta a transpiração, fazendo com que afluia mais sangue aos capilares sob a pele e aumenta o ritmo respiratório, esforçando-se para diminuir a elevação da temperatura.
O stress de calor provocado pelo exercício pode surgir quando a temperatura ambiente é elevada. Os sinais mais vulgarmente observados são: transpiração abundante, respiração e pulsação aceleradas, mas como alguns cavalos são anídricos, o que significa que quase não conseguem produzir transpiração, e como o arrefecimento depende sobretudo da convecção (vento) e da evaporação (transpiração), os cavalos com este problema são os primeiros candidatos a sofrer de stress de calor. O golpe de calor pode progredir rapidamente a partir do stress de calor se a intensidade do trabalho, a temperatura ambiente, a humidade ou a anidrose se sobrepõem à capacidade que o cavalo tem para conseguir o seu próprio arrefecimento.
Os sintomas incluem pele seca e quente, pulso e respiração muito mais elevados que o normal e temperatura rectal anormalmente alta. O golpe de calor pode ser fatal e o proprietário deve chamar um veterinário imediatamente. O cavalo deve ser colocado à sombra onde haja vento ou, na ausência deste, utilizam-se ventoinhas para providenciar ventilação, dando-se um duche nos membros, de jacto fino e suave, para promover o processo de evaporação. Em situações críticas devem-se aplicar nos membros e noutros locais que apresentem veias importantes à superfície muito dilatadas, almofadas frescas de gel, próprias para o efeito. Os veterinários administram grandes quantidades de líquido ao animal e se a temperatura interna for extremamente alta dar-lhe-ão um clister de água fria e entubá-lo-ão.
Normalmente a temperatura rectal do cavalo é de 38ºC. A temperatura crítica, a que constitui perigo de vida se se mantiver por algum período de tempo é à volta de 40ºC. A melhor ajuda a dar aos cavaleiros é ensinar-lhes a identificar o stress de calor antes de ele evoluir para o golpe, parar o cavalo, arrefecer o corpo do animal e pô-lo à sombra, ajudando a evitar o aparecimento do golpe de calor. Também se tem que ter cuidado para que o cavalo não fique desidratado durante longos períodos de exercício, pois pode perder grandes quantidades de líquido através da transpiração. A antiga prática de restringir a água de beber aos cavalos em exercício tem pouco fundamento científico. Geralmente deve-se permitir que os cavalos bebam frequentemente a quantidade que quiserem, a menos que demonstram qualquer sinal definido de stress de calor. Um cavalo quente pode entrar em cólica se lhe dermos grandes quantidades de água; quando quentes os cavaleiros devem oferecer-lhes pequenas quantidades frequentemente, antes, durante e após o exercício.
Pode utilizar-se um teste simples para detectar a desidratação periférica através do teste do beliscão. Quando se faz uma prega numa secção do pescoço ou da espádua, se a pele recolhe imediatamente o cavalo está bem. A desidratação retarda o desaparecer da prega da pele. Outro teste prático é o da ‘temperatura real’, utilizado para ajudar a determinar as condições ambientais propícias a doenças provocadas por excesso de calor num cavalo em exercício. Este teste combina a temperatura ambiente com a humidade relativa. Quando a soma das duas é à volta de 90, o cavaleiro deve ser cauteloso ao trabalhar o cavalo, para que o aumento de calor não provoque uma situação crítica. A maior parte das actividades que envolvem exercícios longos e exigentes devem ser adiadas quando os números se aproximam dos 118.
Por último é importante não esquecer os períodos de arrefecimento a seguir aos de exercício, mesmo quando a temperatura ambiente se encontra dentro dos parâmetros normais. No cavalo há muita acumulação de calor e transpiração durante o trabalho. Este calor tem que ser libertado através da respiração e da transpiração. A libertação de calor através da transpiração necessita de convecção e evaporação. A prática comum de andar a passo evita que se ponha o cavalo num local onde não exista circulação de ar. Esta circulação é de importância vital para que se dê a convecção do calor para fora do corpo do cavalo. O tempo dispendido no processo de arrefecimento depende do tipo de trabalho, das condições ambientais e de cada cavalo em particular.
Texto: Dr. Carlos Rosa Santos.