Campeonato da Europa, uma bela surpresa!
A pedido do Portal Equisport escrevo estas linhas sobre o Campeonato da Europa de Children, Juniores e Jovens Cavaleiros 2022, disputado em Oliva Nova (Espanha), ao qual assisti, em grande parte via Streaming (Online).
Em dois anos consecutivos recaiu sobre a Península Ibérica a responsabilidade da organização dos Campeonatos da Europa de Obstáculos de Children, Juniores e Jovens Cavaleiros, sendo que em 2021 coube ao Centro Hípico de Vilamoura e este ano recaiu sobre o Centro Equestre Oliva Nova em Valência. A enorme competência das organizações e os belos momentos desportivos vividos nestes eventos deixaram quer nos cavaleiros quer no público e demais intervenientes nestas competições, uma agradável recordação.
Nestes Campeonatos Portugal esteve representado em Jovens Cavaleiros por Mandy Mendes Costa montando Hurlevent DB, em Juniores por Madalena Eloy com Florestelle des Cinq Chene e Francisco Mendonça Peixe com Balto de la Pomme, enquanto que nos Children (Juvenis) a representação portuguesa esteve a cargo de Filipe Miguens Malta da Costa com Colombe des Quarts.
Pensamos que a opção da Federação Equestre Portuguesa de selecionar para este Campeonato de Europa um número reduzido de cavaleiros, competindo a nível individual, pretendia colocar em prova aqueles que estivessem em melhor condição de enfrentar os enormes desafios de tão importante competição, o que poderá ter marcado a diferença, preterindo o envio de equipas!
A ausência de equipas portuguesas em qualquer dos escalões, não terá sido uma situação desejada e certamente que muito menos por parte das entidades federativas, sobretudo pelos responsáveis pela seleção dos cavaleiros, nomeadamente pelo selecionador nacional da juventude, Luís Negrão que tem vindo a realizar um trabalho de formação e preparação dos cavaleiros jovens que merece grande destaque e o nosso forte elogio!
Como se pode observar, os resultados vieram a ser abonatórios desse posicionamento, já que no seu todo, os cavaleiros presentes nestes Campeonatos tiveram uma participação digna e honrosa, que em muitos momentos nos deixou com a enorme esperança de que alguns deles alcançassem um lugar no pódio.
Esperemos que para o próximo Campeonato Europeu de Juventude, já possamos contar com a presença de equipas nacionais, se possível em todos os escalões, que possam representar uma continuidade do Programa Talento Jovem lançado pela FEP, e que merece agora uma complementaridade, um corolário, no campo competitivo internacional, contando com a aplicação e trabalho dos cavaleiros e experiência adquirida em pista, o empenho dos treinadores, o suporte nos treinos e estágios promovidos pela Federação e, o apoio incondicional dos pais e familiares dos cavaleiros!
Uma vez mais, torna-se fundamental como meio de formação destes cavaleiros, a sua participação em competições internacionais, não só em Portugal, onde se organizam magníficos CSI’s, que proporcionam uma boa preparação para os jovens cavaleiros. Contudo há que incentivar a sua participação em concursos internacionais além-fronteiras, particularmente os cavaleiros que demonstram mais capacidades e que pretendam participar em Campeonatos Europeus ou em integrar equipas nacionais em CSIOs, sejam estes concursos internacionais de juventude ou outros!
Penso que este será o melhor meio de proporcionar aos nossos jovens atletas experiência e capacidade anímica para competir com os cavaleiros seus pares nas provas internacionais e sobretudo nos CSIOs e Campeonato Europeu.
Numa perspetiva geral dos resultados deste Campeonato, iremos seguir a ordem que foi seguida para o desenrolar das provas, e como tal começaremos pelo escalão de Juniores, onde uma vez mais, os belgas estiveram em destaque, após terem arrecadado as medalhas de ouro, em Vilamoura 2021.
Dando lugar aos mais jovens, abordemos as provas de Children (Juvenis), onde Filipe Miguens Malta da Costa, com apenas 12 anos de idade montando a Colombine des Quarts, se estreou num Campeonato da Europa, com a responsabilidade inerente à competição.
Foi muito complicada a disputa neste escalão etário, uma vez que tínhamos 90 conjuntos inscritos, mais o facto de na primeira qualificativa terem existido 49 binómios com percursos com 0 e 26 conjuntos com 4 pontos, tornando-se ainda mais complexo o facto de a qualidade de competição se ter mantido constante até ao final.
A equipa alemã arrecadou o Ouro por Equipas, com um total de 0 pontos, cabendo o 2º lugar à Itália, após desempate com a equipa francesa em 3º, já que se encontravam em igualdade de pontuação, ou sejam ambas com 4 pontos.
Individualmente o Ouro da vitória coube à Alemanha, com Tani Stormans montando a Dia Nova, para a italiana Ana Ruggeri em Dakotah 2 receber a medalha de prata e o belga Brent Schrijver com Liv Good VD Kattevennen Z arrecadarem a medalha de bronze.
Com uma resiliência marcante, Filipe e a sua Colombine des Quartz lutaram pelo acesso à final, abordando a última qualificativa, em duas mãos, com 8 pontos acumulados, um derrube na primeira e outro na segunda prova, e terá sido nestas duas mãos que ele consegue um duplo zero, portanto uma vitória em ex-aequo com os conjuntos que não cometeram faltas.
Porém essa magnífica prestação não foi suficiente para ter acesso à final, pois os seus pares estavam “diabólicos”, elevando o nível competitivo para limites extremos. Ficaria a escassos 3 pontos de ter acesso à Final, terminando a sua participação com um total de 8 pontos no total das qualificativas da competição, deixando a sua marca, pois para o ano existirá mais Campeonato!
Bravo para a tenacidade deste muito jovem cavaleiro e para o trabalho do seu treinador e pai, Filipe Malta da Costa.
Na continuação, por ordem de escalão etário, iremos agora focar-nos nos juniores onde estiveram presentes os conjuntos portugueses, Madalena Eloy, com e Francisco Mendonça Peixe.
Neste escalão iríamos encontrar 99 conjuntos inscritos e diga-se que os belgas deram tudo por tudo, alcançando a medalha de ouro por equipas, depois de oito percursos fantásticos, enquanto que a Holanda, irrepreensível desde o início do Campeonato, seria medalha de prata, para o bronze ser entregue à equipa da Irlanda.
Individualmente, a surpresa e grande festa veio da Finlândia, sendo sagrado Campeão Europeu Jone Illi com Eolita L, um cavaleiro com magníficos resultados nas competições internacionais nórdicas, e que veio dar vida a esta final com momentos de enorme emoção! A belga Aurelia Guisson, que foi ouro por equipas, seria medalha de prata, montando a No Limit vh Legita Hof Z., enquanto que a sua compatriota Evelyne Putters com Nabeau van het Migroveld Z, que se encontrava na liderança no inicio desta final, receberia o bronze.
Madalena Eloy na sua fiel Florestelle des Cinq Chéne, na primeira qualificativa, uma prova de velocidade e maneabilidade finalizaria com a penalização de 4,98 pontos o que deixava as portas abertas para as suas pretensões.
Nas seguintes qualificativas Madalena e Florestelle des Cinq Chéne abordaram dois magníficos percursos sem faltas, o que lhe permitiu ser primeira ex-aequo, e tendo assim acesso directo à Final, o que para uma estreante é algo que merece os mais profundos elogios.
Já na final, disputada em duas mãos, a sorte não esteve do lado da nossa cavaleira e os 8 e 12 pontos em cada uma das mãos, retirou a esperança num lugar entre os primeiros, finalizando a sua participação com um honroso 24º lugar no campeonato.
Francisco Mendonça Peixe com Balto de la Pomme, na primeira qualificação encontrou dificuldades, nomeadamente quando o seu cavalo fez um reparo a um dos obstáculos, e sendo uma prova de velocidade e maneabilidade, o tempo ditou uma classificação abaixo das expectativas.
Já na segunda classificativa, as coisas também não correram de feição a este conjunto. Desse modo e sem perspectiva de classificação que ele próprio desejaria, Francisco já não viria a participar na 3ª classificativa. Possivelmente terá detectado algo que se passaria com a sua montada, porém como a minha observação foi realizada por streaming, não tive oportunidade de conhecer as razões para tal opção, mas julgo-a corretíssima!
Já nos Jovens Cavaleiros, onde encontrámos concorrentes com enorme experiência internacional. Em representação de Portugal tivemos a Mandy Mendes Costa com Hulevent DB, que este ano deixou de correr pelas cores francesas para abraçar as cores nacionais, dado o seu estatuto de dupla nacionalidade.
Por Equipas, a Bélgica, mais uma vez, foi a vencedora, para o segundo lugar do pódio caber à Alemanha e o terceiro ao Reino Unido!
Individualmente o Ouro iria igualmente para Bélgica através de Thibeau Spits em Classic Touch DH, sendo o segundo lugar pertença de outro cavaleiro belga, Thibeau Philppaerts com Derby de Riverland, e cabendo a medalha de bronze ao irlandês Harryy Allen, irmão do conhecido Bertrand.
Mandy Mendes Costa, que já nos representara na equipe de seniores no CSIO de Lisboa, e participara no CSIO de Madrid saltando pelas cores portuguesas, iniciou este campeonato cuidadosamente, de forma a poder negociar com o seu Hurlevent DB a passagem às Finais, e depois discutir os lugares cimeiros. E o facto é que assim continuou totalizando na primeira qualificativa 5,85 pontos, para na 2ª e 3ª qualificativas realizar 5 + 0 pontos. Desta forma as portas da final abriram-se-lhe e aí teve que lutar com os melhores dos seus pares, totalizando em ambas as mãos da Final 5 + 8 pontos, o que a impediu de um acesso a um lugar cimeiro, como era seu desejo, colocando-a na 19 ª posição da tabela classificativa deste Campeonato da Europa.
E para não me alongar, termino aqui, ressaltando apenas que os belgas, tal como em Vilamoura 2021 deram cartas, e vinham preparados para ganhar tudo… e quase conseguiram! Grandes Cavaleiros!
Aos cavaleiros portugueses deixo as minhas felicitações por nos terem mantido atentos às suas participações, e pelas honrosas classificações alcançadas, pelo que digo: BRAVO!
Jorge Gouveia da Costa