Dica do Mês – Quando a Tosse é Apenas uma Tosse…
Texto: Dr. Henrique Moreira da Cruz
Qualquer cavalo pode tossir de vez em quando. Na maioria destes casos de tosse esporádica os animais não se encontram doentes. A tosse é um dos componentes de defesa do tracto respiratório e consiste primariamente num mecanismo de limpeza, visando a expulsão de detritos. A tosse é iniciada quando as fibras nervosas sensitivas da mucosa do aparelho respiratório são estimuladas por agentes irritantes, inflamação e secreções do tracto respiratório. A ocorrência de tosse pode ser devida a uma causa tão simples e transitória como a inalação de algum pó presente no picadeiro ou inalação de fungos no feno, mas também pode ser devida à presença de doença severa como pneumonia, insuficiência cardíaca ou doença pulmonar obstrutiva crónica (pulmoeira).
Se um cavalo apresenta uma tosse crónica, tem sinais de doença ou fraco desempenho desportivo, deverá ser submetido a um exame clínico por um médico veterinário, o qual deverá incluir testes adicionais de diagnóstico como análises ao sangue, endoscopia e citologia das secreções respiratórias. A maior parte dos cavalos de desporto com tosse crónica, apresentam um maior ou menor grau de pulmoeira, também conhecida por doença pulmonar obstrutiva crónica, obstrução respiratória recorrente, doença respiratória alérgica ou febre do feno. Esta doença é causada pela activação de uma resposta imunitária como consequência da inalação de alergenos. Os alergenos mais comuns são o pó e os fungos da palha e feno e também pólenes de várias plantas. A inalação adicional de alguns agentes químicos (como por exemplo o amoníaco da urina) agrava a situação. Esta doença dos equinos tem algumas semelhanças com a asma dos humanos. O tratamento consiste em duas componentes principais: o tratamento médico e as modificações ambientais.
O tratamento médico consiste na administração de corticosteróides para suprimir o sistema imunitário e reduzir a reacção alérgica; anti-histamínicos também podem ser utilizados para reduzir a reacção alérgica. Broncodilatadores, como o clenbuterol, reduzem o espasmo das vias respiratórias e são altamente eficazes no tratamento desta doença. Estes medicamentos podem ser administrados por via sistémica (oral ou injectável) ou preferencialmente por nebulização e inalação. Neste ultimo caso, as doses necessárias são bastante mais pequenas, reduzindo assim alguns efeitos adversos destes medicamentos. No entanto, a administração por via inalatória implica o investimento inicial da aquisição de uma máscara para inalação, o que pode tornar o tratamento mais dispendioso, principalmente a curto prazo.
As modificações ambientais são igualmente importantes. Sempre que possível, deve-se alterar o tipo de estabulação onde se encontram os animais afectados. Deve preferir-se locais com boa ventilação e longe do armazenamento das palhas e fenos. As camas devem ser de aparas de madeira ou fitas de papel e devem ser mantidas o mais limpo possível, devendo particularmente evitar-se a acumulação de urina. O cavalo deve comer a ração e o feno molhados, ou de preferência substituir o feno por silagem. A não ser que a causa da doença seja alergia a pólenes, os cavalos devem ser colocados em pastos verdes, longe do pó e fungos das camas e dos estábulos.
01/10/2011