Frederico Mexia de regresso a Portugal
O Eng.º Rodrigo Coelho de Almeida entrevistou recentemente Frederico Mexia de Almeida.
Impelido por um saudosismo latente na alma de qualquer português que emigra, o Frederico acaba de chegar a Portugal, após perto de 7 anos de atividade profissional na Dinamarca. Nessa passagem pelo meio equestre dinamarquês, houve uma clara aposta numa equitação vocacionada para a apresentação de cavalos novos, ao mais alto nível.
Nesse percurso teve a oportunidade de montar e apresentar dois dos cavalos novos mais falados dos últimos tempos… o Jovian e o Janeiro Platinium. Pertencentes uma das maiores organizações equestres internacionais, onde a linguagem comercial flui permanentemente na casa do profissionalismo dos milhões de euros.
Com uma elevada capacidade de trabalho, muito talento à mistura, e o rigor imprescindível para se trabalhar no Norte da Europa, o Frederico regressa a Portugal, e coloca todos estes condimentos de trabalho à disposição do meio equestre português.
- Sentiu muito o contraste entre Portugal e a Dinamarca na forma como se montam os cavalos novos e os promovem comercialmente (venda de sémen e dos próprios cavalos)? Haverá benefícios em adaptar alguma desta dinâmica ao mercado dos cavalos novos em Portugal (lusitanos, LW, etc.)?
Existe realmente uma grande diferença. Na Dinamarca o grande mercado de cavalos de Dressage destina-se às provas onde a qualidade de andamentos de base é muito alta. Os cavalos e éguas, na maioria dos casos, começam a ser montados antes dos três anos, por causa das aprovações de Garanhões e avaliação da qualidade das éguas. A meu ver não é a situação ideal, mas quando chegam às provas de cavalos novos 5 anos, por exemplo, já tem 2 anos de trabalho.
Existe uma indústria da Dressage no norte da Europa. Há investidores em cavalos de qualidade que fazem que seja possível que um cavalo de dois anos seja vendido por 1.9 milhões de euros, como aconteceu há pouco tempo na Alemanha. Mas são investimentos que trazem retorno, porque esse cavalo pode chegar a vender sémen para 800 éguas no primeiro ano a 2.500 euros.
Nas provas de cavalos novos FEI é avaliado o passo, o trote, o galope, a montabilidade, e o potencial. São julgados com notas de 0 a 10. Este patamar devia ser um dos degraus da escala de treino para chegar ao Grande Prémio. No entanto, existe alguma controvérsia porque dos melhores cavalos novos de ensino do mundo, apenas 3% chegam a fazer Grande Prémio.
Relativamente aos benefícios da implementação deste sistema nos cavalos Lusitanos, penso que seria muito vantajoso para a raça ter melhores andamentos de base. Passo, trote e galope com mais qualidade porque se juntarmos isso à boa montabilidade e capacidade de concentração que já têm podemos criar cavalos de Grande Prémio de nível mundial.
- A passagem por uma organização ultra-profissional como a do Adreas Helgstrang seguramente que marcou o seu percurso. Montar cavalos com a qualidade e projeção do Jovian ou do Janeiro, não está ao alcance da maioria dos cavaleiros. Em termos gerais o que reteve de positivo na sua passagem por essa organização e que sensações experimentou ao montar cavalos novos daquele nível?
É verdade. Ter feito parte da Helgstrand Dressage foi sem dúvida uma experiência única. São 300 cavalos, 12 cavaleiros e 45 tratadores a funcionar ao mesmo tempo. A dinâmica de comércio de cavalos é incrível, e a qualidade de cavalos é imbatível, pois só compram o melhor do mundo.
Treinam com os melhores treinadores do mundo em condições Top… o resultado tem de ser bom!
Tive a oportunidade de montar o Jovian e o Janeiro Platiniun, durante o tempo que lá estive. Foram sensações únicas. Relativamente ao Jovian que foi em 2019 campeão do mundo de cavalos novos 5 anos, em Ermelo, na Holanda, montado por Andreas Helgstrand. Foi sem dúvida o melhor cavalo que montei até hoje, fácil, óptimo equilíbrio e tem naturalmente várias opções de ritmo e flexibilidade fora do normal.
- Qual a sua hierarquia de importância para as seguintes características (num cavalo de dressage): montabilidade, mecânica de andamentos e força?
A meu ver a montabilidade vem em primeiro, seguida da mecânica de andamentos, e em terceiro a força.
- Neste momento encontra-se aberto a colocar a sua experiência e conhecimento técnico ao serviço de novos projetos em Portugal?
Acabei de chegar, mas estou a preparar as condições necessárias para que possa receber clientes de Dressage, efetuar a preparação de cavalos para competições e aprovações. Desde cavalos novos a Grande Prémio. Isto tudo passa igualmente por dar aulas de Dressage.