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José Mouzinho d’Albuquerque distinto cavaleiro ganhou a primeira medalha olímpica para Portugal

Na terceira participação em Jogos Olímpicos (Paris, 1924), Portugal arrecadou a sua primeira medalha (bronze). Honra à equipa de hipismo, composta por Aníbal Borges d’Almeida, Hélder de Souza Martins, Luís Cardoso Menezes e José Mouzinho d’Albuquerque. É deste último cavaleiro, nascido no Porto, que vamos falar.

José Paulino Marecos Mouzinho de Albuquerque nasceu a 27 de dezembro de 1885. Coronel de cavalaria, comandante da Guarda Nacional Republicana (GNR) e do Regimento de Cavalaria n.º 7, chegou também a ser nomeado adido militar na embaixada de Portugal em Paris.

Distinto cavaleiro representou Portugal nos Jogos Olímpicos de 1924, em Paris, e de 1928, em Amesterdão. Na capital francesa, montando “Hetrugo”, ganhou, conjuntamente com a equipa, a medalha de bronze em saltos de obstáculos, no Grande Prémio das Nações. Na competição individual terminou em 17.º lugar.

Pouco se sabe sobre o feito histórico dos atletas portugueses. Apenas que foi uma competição muito exigente: só 34 dos 50 concorrentes conseguiram completar a prova de obstáculos. No conjunto, Portugal somou 53 pontos. Foi por pouco que os cavaleiros portugueses não ganharam a prata, uma vez que a Suíça somou apenas menos três pontos. O ouro coube à Suécia, com 42,5 pontos.

A atribulada conquista olímpica

Para os jogos na capital francesa, e não havendo federação organizada (só viria a ser fundada em 1927), foi a “Sociedade Hípica Portuguesa” incumbida de organizar uma equipa. Escolheu dois cavaleiros, as suas montadas, e uma reserva: Aníbal Borges d’Almeida, montando “Reginald”, e Luiz Cardoso de Menezes Margaride, com o cavalo “Profond”, levando ainda como reserva o cavalo “Intrepide”.

Já o Ministério da Guerra indicou dois oficiais e três cavalos: o tenente de cavalaria Hélder Eduardo de Souza Martins e o capitão José Paulino Marecos Mouzinho d’Albuquerque, acompanhados do tenente-coronel de cavalaria Manuel da Costa Latino.

O chefe da equipa dos jogos equestres à VIII Olimpíada, Manuel Martins, sublinha no relatório que, então, elaborou para o Comité Olímpico Português (COP), que “os nossos cavalos cumpriram”, mesmo que a preparação pré-olímpica não tenha sido a mais adequada. O tempo de que a equipa dispôs para treinos foi insignificante. Entre outros contratempos, basta dizer que a nomeação dos cavaleiros, por parte do Ministério da Guerra, chegou à secretaria do COP depois de encerrada a inscrição.

Atribulada seria também a presença lusitana na capital francesa. “Hetrugo” adoecera pouco antes do início dos Jogos, pelo que teve de ser alimentado a… açúcar, até às vésperas da prova. Outro dos cavalos do contingente luso foi emprestado por um português solidário, Reinaldo Pinto Bastos, de seu nome, que, em prol da pátria, cedeu o seu precioso animal.

Nada disso pareceu incomodar José Mouzinho d’Albuquerque e seus companheiros. “Os nossos cavaleiros honraram a tradição da cavalaria portuguesa de ser formada por gente destemida e corajosa, dextra na ‘arte de bem cavalgar’”, sublinhou o chefe da equipa portuguesa dos jogos equestres.

Presença nos Jogos de Amesterdão (1928)

A classificação geral dos atletas portugueses nos Jogos da VIII Olimpíada foi bastante honrosa. Entre 45 nações, Portugal obteve o 22º. Lugar. Este triunfo deve-se principalmente a cavaleiros e esgrimistas, que tiveram a honra de figurar nas finais.

Quatro anos depois, em Amesterdão (1928), Mouzinho d’Albuquerque voltou a competir, com uma montada diferente, o “Hebraico”, um luso-árabe, da Coudelaria Militar de Alter. Terminou em sexto na competição de equipas de saltos (a equipa ficou em quarto lugar) e em 19.º na competição individual.

O melhor cavaleiro português de então foi o último varão da sua família. Com a sua morte, extinguiu-se a descendência da família Mouzinho de Albuquerque, bem como a de Albuquerque. Faleceu no Hospital Militar Principal da Estrela, a 8 de agosto de 1965.

Fonte: Paulo Alexandre Neves

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