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Atitude humana versus obediência

Janice Landorf
Classical Riding Club (GBR)

Para se obter obediência no cavalo, existem diversas técnicas directamente dependentes dos objectivos a atingir e do caracter do cavalo em questão.Temos a tendência de considerar os cavalos ou como escravos, serventes, companheiros, ou ainda como animais de estimação.A filosofia do animal de estimação dá pouco relevo ao respeito, chegando mesmo ao ponto do cavalo se tornar perigoso.

A filosofia do servente leva-nos a uma aproximação autoritária no que diz respeito a treino. Espera-se que o ser humano seja firme e justo à medida que o cavalo é compelido a obedecer.

A filosofia do companheiro põe mais ênfase na confiança e na brincadeira à medida que o cavalo é compelido a obedecer. Por sua vez a filosofia do servente pode mecanizar o cavalo.

A filosofia do servente é muito habitual, dando bastante resultado com muitos cavalos, especialmente com as raças criadas para serem submissas. Os apoiantes da equitação natural afirmam frequentemente que o ser humano deve agir como cavalo ‘alpha’, especialmente com garanhões, uma vez que os verdadeiros cavalos ‘alpha’ conseguem obter o domínio através da força e da intimidação, conceito que reflecte habitualmente o ponto de vista do servente. Na América desenvolveu-se um conceito apelidado de comando passivo. Segundo esses estudos os verdadeiros cavalos ‘alpha’ são criaturas solitárias que exigem submissão em troca de amizade. Os ‘leaders’ passivos são seleccionados por outros cavalos, sendo respeitados pela sua sabedoria e comportamento consistente. As manadas que têm este tipo de ‘leaders’ mantêm-se unidas partilhando tudo entre eles. Este conceito reflecte a filosofia do companheirismo.

O conceito actual das escolas de treino alemãs são um tópico popular da literatura de dressage actual. As qualidades do cavalo ‘direito’, da ligeireza, do contacto e do ritmo já foram discutidas. Uma qualidade muitas vezes excluída é a da obediência às ajudas transmitidas pelo cavaleiro para andar para diante, lateralmente e de contenção. Á medida que o cavalo desenvolve a calma, a ligeireza, o contacto e o ritmo, deve aprender a perceber estas ajudas. Para desenvolver a verdadeira impulsão e concentração, o cavalo deve responder verdadeiramente às ajudas.Esta forma de obediência depende de dois factores básicos. Um deles é o seu relacionamento emocional com o ser humano. Isto afectará o seu/sua vontade de seguir as regras de comportamento que se encontram sob as combinações de ajudas mais complexas. O segundo factor é a forma como o cavalo consegue perceber o que as ajudas do cavaleiro querem dizer.

A atitude básica do cavalo em relação ao ser humano é habitualmente influenciada pelas suas primeiras experiências com o mesmo. A confiança e o respeito devem ser bem estabelecidas quando se habitua o poldro ao cabeção, devendo ser reforçadas quando o cavalo é desbastado. Ajudar o cavalo jovem a ultrapassar o seu receio em relação ao arreio, ao cavaleiro e à cabeçada deve aumentar a sua confiança. Á medida que o poldro aprende a equilibrar-se sob o cavaleiro ele/ela podem fazer uma série de testes para determinar quais os comportamentos aceites pelos cavaleiros.

A comunicação entre cavalo e humano também se desenvolve gradualmente. Inicialmente é ensinada com as mãos, os cabeções e as cordas. O passo seguinte envolve, habitualmente, linguagem corporal, guias, chicotes, podendo ou não incluir embocaduras.

Quando um poldro é montado pela primeira vez, só pode perceber ajudas muito simples, que lhe podem ser explicadas por associação com as ‘deixas’ que já aprendeu com treinos no solo. Todas estas ajudas simples dependem do princípio básico da cedência à pressão.Logo que o cavalo é sujeito a ajudas mais complexas, deve ser ensinado a seguir quatro regras base de comportamento. A comunicação mais avançada, com combinações de ajudas e de equilíbrio dependem da vontade existente no cavalo para manter o andamento, direcção e flexão até o cavaleiro lhe pedir uma alteração.

A obediência tranquila e consistente do cavalo depende do modo como ele se apercebe do que o cavaleiro lhe pede, da sua capacidade física e da sua atitude de cooperação. Dependendo da autoridade existente, o treino de dressage pode definir-se pelo início do manuseamento por parte do ser humano, pelo desbaste ou por melhorar a atitude dum cavalo mais maduro. Quanto mais cedo se der o manuseamento do poldro, mais cuidado se deve ter para se obter um bom relacionamento entre homem e cavalo. Os erros cometidos durante os primeiros contactos podem provocar danos físicos ou emocionais que podem não permitir que o cavalo atinja o seu potencial máximo.

Por melhor que monte o cavaleiro, este só consegue obter aquilo que o cavalo está disposto a dar. A maior parte das definições de ajudas concentram-se no assento, nas mãos e no equilíbrio. Infelizmente aquilo que o cavaleiro pede pode não ser necessariamente o que o cavalo percebe. Estas definições ignoram geralmente a importância da atitude subjacente do cavalo. A sua vontade para obedecer é muitas vezes considerada como facto consumado.Se o cavalo não quiser realmente cooperar o cavaleiro pouco pode fazer para influenciar o seu comportamento. Infelizmente o castigo é frequentemente a receita para uma rápida cura para estes casos…

Qual a filosofia ou conceito de comando pode dar os melhores resultados pode depender do indivíduo humano e de cada cavalo. O cavalo de Klimke, ‘Ahlerich’ não conseguia vencer quando compelido a obedecer; quando persuadido a obedecer produzia ‘performances’ excelentes.

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