Dica do Mês: Deslize da sela em cavalos de desporto
Texto: Dr. Henrique Cruz
Desenho: Pedro Dória
Um estudo realizado recentemente por um grupo de investigadores no Reino Unido identificou uma relação entre deslize da sela e cavalos com claudicação nos membros posteriores, mesmo em casos de claudicação ligeira e difícil de detectar.
O deslize da sela em cavalos de desporto é um problema bem reconhecido e que pode ocorrer por uma variedade de razões incluindo assimetria na conformação do dorso do cavalo, má postura do cavaleiro e arreios mal ajustados. Estes investigadores observaram que o deslize da sela também pode ocorrer em situações de claudicação dos membros posteriores.
O objetivo do estudo foi descobrir mais informações sobre as relações entre o cavalo, sela e cavaleiro e documentar a frequência de ocorrência de deslize da sela em cavalos com claudicação dos membros posteriores em comparação com outros cavalos.
O estudo foi realizado por Line Greve e Sue Dyson, em Newmarket no Reino Unido, e foi apresentado no último Congresso da BEVA (Associação Britânica dos Médicos Veterinários de Equinos) que decorreu em Birmingham no passado mês de Setembro. Trata-se de um trabalho original, numa área que nunca tinha sido previamente estudada. Foi patrocinado pela SRT (Saddle Research Trust), organização de caridade Britânica que tem como objetivo promover investigação e providenciar apoio e aconselhamento sobre a influência da sela no bem-estar e desempenho desportivo de cavalos e cavaleiros.
Foram avaliados 128 cavalos de tipo e idades variadas. Classificou-se o respectivo grau de claudicação, mediu-se a conformação e simetria do dorso e avaliou-se a simetria e ajuste da sela. Cada cavalo foi montado por pelo menos dois cavaleiros diferentes e a postura e peso de cada cavaleiro foram registados. Também se avaliaram os seguintes parâmetros: o grau de deslize, se ocorreu deslize quando o cavalo foi montado por cavaleiros diferentes e se o deslize foi influenciado pela direção do movimento ou pela diagonal em que o cavaleiro se sentava.
Verificou-se que ocorreu deslize consistente da sela para um dos lados em 54% dos cavalos com claudicação dos posteriores mas apenas em 4% dos cavalos com claudicação dos anteriores; 0% em casos de dor no dorso e/ou doença na articulação sacroilíaca e também 0% em cavalos sem claudicação. Os casos de claudicação dos membros posteriores foram subsequentemente investigados com anestesias tronculares (bloqueios nervosos) e em 97% dos casos o deslize da sela foi eliminado quando os cavalos deixaram de claudicar.
Os investigadores concluíram que era importante educar os cavaleiros, proprietários de cavalos, fisioterapeutas, treinadores e pessoas que trabalham com selas que o deslizar da sela é uma forte indicação de claudicação e não necessariamente uma manifestação de um arreio mal ajustado ou duma assimetria na conformação no dorso do cavalo. A deteção de deslize da sela permite ao cavaleiro ou treinador identificar uma claudicação subclínica ou de grau subtil, o que poderá ter grandes vantagens tanto para as pessoas envolvidas como para o cavalo em questão.