Dica do Mês – Outra vez na estrada…
Texto: Dr. Henrique Cruz
Hoje em dia, transportam-se rotineiramente centenas de cavalos por todo o mundo. Se bem que para alguns cavalos (tais como os atletas que viajam para competições quase semanalmente) o transporte possa ser um acto de rotina completamente familiar, para outros (talvez os mais jovens ou mais sedentários) o transporte pode ser uma acção completamente “anti-natural” e hostil.O cavalo tem um instinto de sobrevivência baseado na “luta ou fuga”. Quer-se com isto dizer que quando um cavalo se assusta, o animal tende a reagir súbita e violentamente, como se se estivesse a defender de um predador. O instinto do cavalo perante uma ameaça é ou atacar (escoiceando ou mordendo) ou fugir. Foi assim que esta espécie evoluiu ao longo dos milénios, convivendo com os seus predadores.
Não é natural para um cavalo entrar num espaço escuro, confinado, por vezes barulhento, instável e sem saída. No entanto, muitas vezes sem pensarmos nisto, esperamos que o cavalo tenha de entrar para o atrelado ou camião e viajar durante horas e quilómetros enquanto come, bebe e realiza as suas funções fisiológicas.Como se isto não chegasse, quando o cavalo chega ao seu destino, muitas vezes encontra um ambiente desconhecido e stressante. No caso de competições desportivas, muitas vezes o animal não tem tempo para se ambientar e é logo submetido a provas de esforço. O instinto de “luta ou fuga” do cavalo faz com que, numa situação de stress, o animal desvie a circulação sanguínea concentrando-a nos músculos, enquanto reduz a motilidade intestinal. Isto pode dar origem a um síndrome de cólica.
Além disso, o stress causa um aumento dos níveis de cortisol que por sua vez deprime o sistema imunitário e torna o animal mais susceptível a infecções.
Relembramos algumas medidas que podem reduzir os efeitos do stress causados pelo transporte, aumentando assim o bem-estar do cavalo:
• Habitue o cavalo a entrar e sair do camião, primeiro sem viajar, e depois fazendo pequenas viagens, enquanto lhe oferece recompensas pelo seu bom comportamento. Deste modo, o “carregar” e descarregar” tornam-se experiencias normais e positivas.
• Dias antes da viagem, comece a dar ao cavalo produtos que fortaleçam o tracto gastrointestinal (próbioticos) e também o sistema imunitário.
• Em alguns casos, pode haver vantagem em administrar um laxativo antes da viagem, de modo a prevenir a ocorrência de cólicas por impactação.
• Recomenda-se utilizar durante (e após) o transporte a mesma água e dieta a que o cavalo está acostumado de modo a não interferir com o apetite do animal.
• Em viagens longas é importante fazer paragens frequentes em locais onde os cavalos possam ser descarregados e movimentados em segurança. É essencial que os animais não deixem de beber água durante a viagem para evitar situações de desidratação.
• Planeie a viagem com antecedência evitando viajar durante as horas de mais calor ou de trânsito intenso. De igual modo, preste atenção às previsões meteorológicas e evite viajar durante condições adversas sempre que possível.
• Evite que os cavalos estejam presos sem poderem movimentar o pescoço. Manter a cabeça elevada por períodos prolongados aumenta o risco de infecções respiratórias.
Um estudo relativamente recente que analisou a posição preferencial de cavalos soltos num camião com espaço amplo, revelou que a maior parte dos animais adoptava com mais frequência viajar voltados para trás. Concluiu-se que esta seria a posição em que os animais se sentiam mais confortáveis, talvez por conseguirem adquirir um melhor equilíbrio durante os movimentos adversos do transporte.
A pleuropneumonia é uma doença grave causada por infecções do aparelho respiratório e está associada a situações de viagens longas. Esta doença também conhecida como “febre do transporte” pode ser evitada se se tiver em consideração as medidas acima descritas.
Henrique Cruz LMV GPCert(EqP)
Médico Veterinário – Clínico de Equinos
Tel: 914989260