Inteligência Equina ( II )
Texto: Gillian O’Donnell
Certos treinadores antigos, muitos dos quais ainda vivem, acreditavam no castigo quando o cavalo respondia incorrectamente a um comando ou ajuda. Se o treinador tentava ensinar uma cavalo a entrar a galope com a mão direita e o cavalo insistia em sair com a esquerda, era castigado com o chicote ou espora ou ambos.
A escola de pensamento que prevalece hoje é a de recompensar o cavalo quando ele responde correctamente e de nada fazer quando ele não o faz, ou simplesmente dizer não ou outro sinal que lhe tenha sido ensinado e que ele entenda como desaprovação. Bater ou insultar um cavalo que está a tentar descobrir o que lhe queremos ensinar é estúpido e cruel.Provavelmente um aspecto tão importante como o da firmeza quer na recompensa quer no castigo é o de administrar qualquer destas acções no momento imediato à execução do exercício. A sua mente funciona de um modo, que para poder relacionar as duas coisas elas não podem distanciarem-se mais de um ou no máximo dois segundos. Após este lapso de tempo não relacionará uma coisa com a outra e a recompensa ou repreensão dados não servirão para nada. Os castigos que o cavalo não entende traduzem-se num animal zangado, ressentido e no melhor dos casos não cooperante.
Recompensar um cavalo passado já algum tempo de ele ter cumprido, como por exemplo quando sai do campo de obstáculos após uma boa prova, é demasiado tarde. Todavia, uma palavra de apreço sussurrada de cada vez que transpõe bem um obstáculo é compreendida e motivante para o cavalo porque consegue relacionar as duas coisas.É enfurecedor ver cavaleiros a dar uma chicotada a um cavalo depois de ter feito a batida para um salto. Esta acção indica ao cavalo, sem sombra de dúvida, que ele está a actuar incorrectamente! O mesmo acontece com as pancadas na boca, as espetadelas das esporas e mesmo as violentas pancadas que lhe são infligidas nas costas pelo “assento” do cavaleiro. Qualquer acção desagradável ou dolorosa será inevitavelmente associada pelo cavalo ao acto de saltar (ou seja qual for o exercício em execução). Quando nos debruçamos sobre as técnicas utilizadas por alguns cavaleiros podemos considerar um milagre não existirem mais cavalos a recusar ou a “pegarem-se”.
As palavras-chave do ensino são: firmeza, oportunidade, repetição e a recompensa.
Estamos todos cientes de que o método de ensino convencional indica que não se deve permitir ao cavalo a iniciativa e antecipação ou seja, fazer o que pensa que lhe vamos pedir antes de o fazermos. Diz-se que isto diminui a nossa autoridade em vez de mostrar inteligência por parte do cavalo. Os cavalos adquirem hábitos com muita facilidade e há quem afirme que isto não demonstra verdadeira inteligência, sendo simplesmente o cavalo a executar o que se lhe tornou habitual.
A minha opinião é a seguinte: sendo nós seres de suposta inteligência superior, deveríamos lembrar-nos e aceitar o facto de que os cavalos são criaturas de hábitos e anteciparmo-nos às suas acções, tomando medidas para evitar qualquer acção que pensámos que vai executar, tal como assustar-se num local onde costuma fazê-lo.A antecipação é na verdade uma expressão de inteligência e pessoalmente fico preocupada quando um cavalo não demonstra qualquer sinal dessa antecipação – memória e capacidade de aprendizagem!
AVALIAÇÃO DA INTELIGÊNCIA
O estratagema favorito dos investigadores cientificas para avaliarem a inteligência animal é o labirinto. Para o meio deste são lançados os mais diversos tipos de animais e o que chegar primeiro ao alimento que se encontra no centro é julgado como sendo o mais inteligente.A sua profissão inclui vários outros truques como a solução de problemas, tais como a aprendizagem de qual a alavanca a accionar ou a quis sons responder de forma a descobrir onde encontra a recompensa.Este tipo de teste é totalmente desadaptado aos cavalos que nunca, no seu meio natural têm que resolver problemas deste tipo. O teste real à inteligência é o da sobrevivência no seu próprio meio e os cavalos sobreviveram no seu durante vários milhões de anos. Mais, são suficientemente inteligentes e adaptáveis para sobreviver e por vezes prosperar no nosso ambiente, vivendo uma vida que lhes é imposta: ser montados, viver em cavalariças, ser separados dos seus semelhantes, não ter oportunidade de formar relações naturais de manada, ser forçado a comer rações feitas por nós etc.Isto para mim é a verdadeira inteligência. O que nos importa se o cavalo é ou não mais inteligentes do que os cães, seres humanos, gado bovino, gatos ou o que quer que seja. Temos cavalos porque, gostamos deles pelo que são. Se pensarmos que são estúpidos – como há quem o afirme – não é estúpido associarmo-nos a eles, fazendo-o por prazer?
Na nossa sociedade fazer dinheiro é suposto ser sinal de esperteza e há quem faça muito, com o negócio dos cavalos.
Tenho conhecido muitas pessoas que fizeram muito dinheiro e que são irrefutavelmente estúpidas!