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Mudanças de feno = mais cólicas

Dr. Carlos Rosa Santos

Um estudo feito nos E.U.A traz-nos uma nova perspectiva sobre os factores de risco na aparição de cólicas em equídeos. Publicações anteriores (1995) já tinham demonstrado a importância das alterações alimentares, sem contudo precisar quais.

O estudo de Cohen e colaboradores adopta uma metodologia especial: baseia-se num universo de 2060 cavalos examinados por um grupo de 774 médicos veterinários. Cada veterinário respondeu a um questionário relativo a dois casos clínicos: o de um cavalo com cólica e o de um cavalo consultado por outro motivo.Os principais tipos de cólicas referidas no estudo, foram as espasmódicas (34,8%) seguidas das de obstrução (19,6%). Os outros animais referidos no estudo e a título de comparação foram examinados devido a lacerações cutâneas (45,2%) e claudicações (21,3%). Dos cavalos apresentados com sintomatologia de cólica 15,3% morreram.A idade dos cavalos consultados e tratados devido a cólica (média de 10 anos) é significativamente superior ao dos animais apresentados por outras razões (média de 7 anos).

Os cavalos árabes têm uma grande representação neste estudo não havendo, porém, diferenciação entre sexos. Não se sabe, porém, se esta predisposição é devida a factores genéticos ou a condições de maneio diferentes. O tipo de utilização dos cavalos não é relevante mas as cólicas são menos frequentes quanto melhor é o maneio. Quanto maior for o número de cavalos por hectar maior é o risco de cólicas.Qualquer mudança de condições de maneio (a estabulação por exemplo) aumenta o risco de cólicas. Os cavalos que passam mais de 50% do seu tempo em boxes estão igualmente mais expostos. A fonte de abeberamento é importante. O acesso a água não tratada aumenta o risco enquanto que o contrário o diminui.A modificação da intensidade da actividade física nas duas semanas precedentes é um factor contributivo. O transporte recente dos animais não o parece ser. Outros dois grandes factores de risco são a existência de episódios de cólica anteriores e a desparasitação irregular. Este fenómeno é bem identificado nos poldros muito infestados com ascarídeos. A desparasitação induz à morte massiça de parasitas que podem obstruir o intestino. Neste último caso a administração de um vermífugo pode despoletar uma crise nos 7 dias seguintes . O não desparasitar é, porém, um risco muito maior.

Alterações climatéricas (ventos de Outono e aumento da nebulosidade) são um factor de risco nos 3 dias seguintes ao seu acontecimento.Os cavalos submetidos a um regime extensivo (pastagem) estão menos sujeitos a crises abdominais.Contudo, o factor de risco mais importante é a modificação do regime alimentar nas duas semanas precedentes. Ao contrário do que se pensa não é a alteração dos concentrados (ração) que é responsável pela grande maioria das cólicas, mas sim a mudança de fenos. Embora este estudo tenha sido feito nos E.U.A podemos concluir que a origem do feno é mais importante do que o tipo de feno. Sabe-se que as modificações do feno provocam variação do pH do conteúdo intestinal, que influenciam a produção de ácidos gordos voláteis e que perturbam o equilíbrio microbiano, tudo factores que podem alterar a motilidade intestinal, conducentes pois ao aparecimento de cólicas.O estudo no qual baseamos este artigo não se debruça sobre a associação dos diferentes factores atrás mencionados.

O facto que mais sobressai e que queremos pois realçar é que alterações no feno, com particular relevância para a sua origem, aumenta o risco de cólicas. Este risco aumenta em cerca de 10 vezes. Quando não se pode evitar esta alteração, o animal deve estar sob observação durante 15 dias. Surpreendentemente, a alimentação industrial (rações concentradas) são muito menos “culpadas” do que se julgava até agora no surgimento do síndrome cólica.

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