Vícios na Boxe ( I )
Os vulgares vícios de «boxe» incluem a birra de urso, abanar a cabeça, roer, engolir ar, morder a madeira e lesões auto infligidas. Estes factores têm sido desde há muito considerados como verdadeiro impedimento da eficácia, valor e possível melhoria de rendimento dos cavalos.
Hoje, é geralmente aceite que estas demonstrações de comportamento são frequentemente respostas ao stress provocado por certas medidas de gestão doméstica. Uma vez estabelecidos estes padrões de comportamento torna-se quase impossível erradicá-los devido à resposta interna do cérebro do cavalo e do sistema nervoso que actua de modo a manter o comportamento “anormal” mesmo quando o animal foi retirado da situação que inicialmente originou o seu desenvolvimento. É por isso que muitos donos herdam cavalos com problemas de comportamento quando os compram e, subsequentemente, têm de aprender a viver com eles durante muitos anos!Os padrões de comportamento anormal estão frequentemente ligados às características menos boas do ambiente em que se encontra o animal. Desenvolvem-se muitas vezes em condições que são cronicamente frustrantes, de stress, de medo, restritivas ou áridas. É difícil para nós avaliar como animais que evoluíram através de milhões de anos vivendo em manadas, vagueando por vastas extensões de terra, correndo e reproduzindo-se à vontade, se relacionem com a nossa maneira de pensar e com os nossos métodos de gestão de situações domésticas!
Nós pegamos em animais que vivem em manadas e separamo-los em cavalariças individuais. Pegamos em animais que vagueiam e pastam livremente e restringimos-lhes os movimentos físicos, a quantidade de exercício que fazem e controlamos completamente o seu regime alimentar. Na maior parte dos casos os cavalos adaptam-se bem a este estilo de vida – mas nem sempre – e é importante que reconheçamos que problemas de comportamento são sintomas de subjacente stress mental. Nós criamos comportamentos anormais similares nos animais mantidos em cativeiro nos jardins zoológicos e no gado criado em regime intensivo. Doentes humanos em instituições mentais demonstram frequentemente a mesma invariável maneira de passear de um lado para o outro e de se embalarem em movimentos oscilantes como fazem alguns cavalos nas boxes!
Estereótipos (comportamentos monótonos com birra de urso, morder a manjedoura, etc.) são geralmente definidos como padrões de comportamento invariável e repetitivo que não tem óbvias finalidades ou funções. A maior parte dos estereótipos não surgem da noite para o dia; desenvolvem-se durante um certo período de tempo. Por isso, existe uma continuidade entre os primeiros sintomas e formas de comportamento mais desenvolvidas e é de primordial importância que, quando lidando com cavalos jovens, aprendamos a reconhecer os primeiros sinais de tão indesejáveis padrões de comportamento.
Os estereótipos desenvolvem-se a partir de uma série de padrões dentro do “reportório normal” do comportamento do animal. A natureza da origem do padrão é muitas vezes evidente pela aparência física do estereótipo: por exemplo, o estereótipo de alguns animais em cativeiro desenvolve-se do que parecem ser intencionais movimentos locomotores de fuga de um espaço fechado, ou acções orais ou de ingestão que subsequentemente se dirigem a objectos fixos, tais como portas, acessórios de boxe e manjedouras. Crê-se que, nalguns casos o estabelecimento de padrões anormais de comportamento ocorre devido à repetição. A forma dum padrão de comportamento repetido torna-se, com o tempo “auto-organizado” e menos dependente de influências do ambiente onde o animal se encontra. Um estágio mais avançado no desenvolvimento de alguns estereótipos é a “emancipação”; eles podem ser evocados por um largo rol de eventos, não sendo agora dependentes apenas do original estímulo causal. Por exemplo, um cavalo que originalmente começou uma birra de urso porque não podia escapar do espaço restrito da sua boxe, pode, com o tempo, mostrar esse comportamento em qualquer altura e sempre que esteja ansioso – à hora de comer, antes de fazer exercício, antes de viagem etc.