Paula da Silva
As provas de endurance são para o cavalo o que a maratona é para o homem. Disputa-se em caminhos e estradas, com paragens para descanso e para inspecções veterinárias que asseguram que só os cavalos em boas condições físicas e de saúde possam participar. Nestas inspecções o cavalo tem que demonstrar que é capaz de continuar a prova com segurança sendo essa avaliação feita com base específica nos parâmetros metabólicos e mecânicos reconhecidos como importantes. No fim da prova o cavalo deve passar a inspecção veterinária final tendo como base os factores de recuperação acima citados. Uma hora depois do fim da prova os cavalos classificados nos 10 primeiros lugares são julgados para o prémio do cavalo em melhor condição física – e aqui chegamos a um ponto importante: as provas de endurance são diferentes de todas as outras modalidades equestres – nestas provas não só é importante vencer como conseguir o prémio do cavalo com a melhor condição física, provando que o cavaleiro é bom e que monta um cavalo são e em forma.O cavalo de endurance tem que trabalhar em estradas para aumentar a sua forma física e resistência mas também necessita de trabalho de escola para se manter elástico. Deve atravessar facilmente charcos de água e não se preocupar com automóveis e bicicletas, factor que faria aumentar o número de pulsações e consequentemente o cansaço; deve estar liberto do seu instinto de manada que lhe poderá causar nervosismo quando outros conjuntos o ultrapassam e se afastam. Estas são qualidades específicas ao cavalo de endurance que deve ser obediente, equilibrado, sensato e ter um bom metabolismo.É essencial que o cavalo coma e beba sempre que tem ocasião, que urine com facilidade sempre que se lho facilita e que descontraia e descanse profundamente confiando em pleno no cavaleiro.Para conseguir isto o cavaleiro terá que partilhar da sua vida, dos seus hábitos e da sua psicologia. Tem que aprender os sinais de código do cavalo quando este está cansado, necessita de urinar ou simplesmente se sente mal; necessita saber como explorar as suas qualidades e minimizar os seus problemas. A preparação do atleta equino consegue-se gradualmente sendo necessário dispor-se de muito tempo – existem muitos cavalos de endurance ou de passeio que começaram a ganhar aos 10 anos continuando entusiasticamente até aos 20. Um cavalo de endurance em boa forma e são não tem preço, mesmo sem contabilizar as horas despendidas em conseguí-lo.O motivo que leva o cavaleiro a enveredar pela modalidade de endurance é geralmente a vontade de aprender mais sobre os cavalos, especialmente quando a trabalhar duro, é escapar às tensões acumuladas, ver novas paisagens e conseguir partilhar com o companheiro de quatro pernas um desporto que consegue praticar até ser velho.
A modalidade de endurance ensina o cavaleiro a apreciar o tesouro verdadeiro que é um cavalo saudável – em longos percursos não pode existir nada mais emocionante do que ter um cavalo que queira subir uma montanha tanto como o cavaleiro ou cortar a meta ao fim duma prova de 160km com um cavalo ainda repleto de energia e vontade de seguir caminho.Um bom cavaleiro não tem grande necessidade de equipamento especial para saber o estado em que o cavalo se encontra porque o cavalo comunica de várias maneiras. Um cavalo cansado encurta a passada, começa a tropeçar mais e a recuperar mais lentamente – razão pela qual os cavalos cansados estão mais predispostos a lesões. Existem atitudes diferentes de cavalo para cavalo: alguns são tão competitivos que correm agressivamente até caírem enquanto que outros agem como se estivessem cansados quando ainda estão bem. Se o cavaleiro conhecer bem o cavalo aperceber-se-á rapidamente das alterações de comportamento – menos vontade de responder às ajudas e de se manter à altura dos outros cavalos.Existem sinais mais subtis de fadiga que é importante interpretar e é assim que o conhecimento profundo do caracter e dos hábitos de cada cavalo é importante.Nesta modalidade o saber é muito importante uma vez que envolve métodos de treino, dieta e a fisiologia do cavalo.O cavaleiro tem habitualmente uma equipa para lhe dar assistência em todos os pontos de paragem, ajudando a refrescar o cavalo com uma esponja com água fresca, dando-lhe água, fresca, administrando-lhe massagens, medindo as pulsações e dando a devida atenção aos cascos e aos arreios – na realidade dá-se muito mais atenção ao cavalo do que ao cavaleiro que pouco descansa, ocupando o tempo de pausa para ver se o cavalo urina, se bebe e se está em boas condições para prosseguir caminho.
O material utilizado nas cabeçadas e gamarras dos cavalos de endurance não são de couro mas um material chamado ‘biothane’ que se lava facilmente com água e sabão e que suporta esse tipo de tratamento.Os arreios e as roupas do cavaleiro têm como finalidade ser o mais confortáveis possível para que ambos se sintam bem.Nesta modalidade o cavaleiro tem que ter uma boa preparação atlética uma vez que é vulgar que em terrenos difíceis o cavaleiro desmonte e corra ao lado do seu cavalo; esta característica obriga a que o cavaleiro necessite de ter um bom relacionamento com o cavalo mesmo do solo.A utilização da tecnologia veterinária por parte da equipe de assistência e do cavaleiro ajudam a que este consiga manter o cavalo dentro da sua aeróbica qualquer que seja o terreno e o clima. Em competições o cavalo dá poucos sinais de aproximação dum grave desequilibro metabólico – a sua vontade de agradar, de seguir os outros, a adrenalina e a coragem encarregam-se de esconder muitos sintomas.
