O Olfato do Cavalo
Texto Dr. Henrique Cruz.
Podemos considerar o olfato como um dos sentidos mais apurados no cavalo. De facto, ele é o mesmo no escuro ou no claro, ou no barulho e no silêncio.
O olfato é muito desenvolvido nos cavalos. Estes animais conseguem distinguir odores por mais suaves que sejam. A comida é selecionada pelo cheiro e depois saboreada pelo paladar. O cavalo consegue detetar produtos indesejáveis na ração e é capaz de perceber o odor do rato e manifestar repulsa diante do feno ou outro alimento.
O olfato é importante nas relações sociais entre os cavalos, eles identificam-se pelos seus cheiros e realizam um ritual de aproximação. Geralmente os pontos a serem cheirados são a parte anterior a começar pelo nariz e base do pescoço, progredindo até aos flancos, virilhas e inserção da cauda. Uma vez captado o cheiro, o cavalo não esquece mais, isso pode resultar em simpatia ou antipatia. O poldro recém-nascido identifica no meio da manada a égua mãe pelo cheiro e ela também o reconhece pela mesma forma.
Também é através do olfato que o garanhão identifica a presença de uma égua sem a ter visto, principalmente se ela estiver no período do cio. Ao cheirar a égua no flanco e no períneo, o garanhão tende a responder com uma aspiração acentuada levantando a cabeça e o lábio superior, estando assim a iniciar o ritual do acasalamento. Esta reação é denominada de “Flehmem” e é resultado da estimulação de um órgão chamado de vômero-nasal, presente nas vias nasais, que deteta a presença de substâncias excitantes libertadas pela égua. Só odores considerados interessantes pelo animal podem desencadear essa reação.
É através do olfato que o cavalo faz o reconhecimento dos caminhos que irá percorrer e que são geralmente sinalizados com o odor das respetivas fezes.
É também pelo olfato que o cavalo reconhece o seu dono e tratador. É aconselhável que as pessoas em contato com cavalos, não usem perfumes ou similares, pois isso mascara o reconhecimento por parte do animal.
É costume dizer-se que os animais sentem o medo e de facto um estudo recente sugeriu que os cavalos têm capacidade de detetar emoções no suor dos humanos.
O estudo foi liderado pelo Dr. António Lanata, da Universidade de Pisa, Itália. Os investigadores tentaram comprovar que existe transferência de emoções entre espécies através de odores corporais. Consistiu na monitorização da frequência cardíaca dos cavalos em resposta a vários odores corporais dos humanos. Os equinos apresentaram respostas diferentes ao medo e à felicidade.
Os resultados revelaram que os odores corporais humanos induziam alterações diferentes no sistema nervoso dos cavalos causando estímulos emocionais.
Utilizaram-se umas pequenas almofadas esterilizadas para recolher suor das axilas de vários humanos enquanto estes observavam vídeos que induziam medo ou felicidade, com duração de 25 minutos.
Foram utilizados sete cavalos para o estudo. Depois de uma analise de eletrocardiograma com o cavalo relaxado, cada cavalo foi abordado por um humano desconhecido (para o animal) que lhe apresentou tubos de ensaio com odores de medo e de felicidade, e também um tubo de controlo, sem qualquer tipo de odor. Ao logo da experiencia, o eletrocardiograma de cada cavalo foi gravado e depois analisado.
A analise estatística mostrou uma relação significativa entre o odor do humano com medo e o aumento da frequência cardíaca no eletrocardiograma. Mostrou também que a demonstração do medo e da felicidade foram estatisticamente diferentes no que diz respeito aos valores dos picos de baixa frequência no eletrocardiograma. O estudo concluiu que os sinais químicos humanos afetam o estado fisiológico dos cavalos tal como foi demonstrado pelas alterações da atividade autónoma.
O objetivo desta investigação foi explorar o mecanismo através do qual as emoções humanas poderiam influenciar o comportamento dos equinos, em particular a tendência de os cavalos mostrarem reações inesperadas quando montados por uma pessoa nervosa ou apreensiva.
Estes resultados podem provavelmente ser o inicio do processo de compreensão do comportamento inesperado de alguns cavalos quando interagem com humanos. As principais limitações deste estudo foram o pequeno número de cavalos utilizado e a originalidade do protocolo experimental que necessita de ser corroborado num cenário mais natural e com uma amostra maior de cavalos.
Contudo estes achados podem tornar possível o desenvolvimento de estratégias de maneio mais eficazes nas várias situações em que é necessária uma interação estrita entre humano e animal, como é o caso da Hipoterapia.