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Parada de estrelas: Ulla de Lancôme

A égua “Ulla de Lancôme” era de raça Selle Français, filha do Anglo-Arabe “Seducteur” e duma égua normanda.

Nasceu em França (Normandia) em 1964 e foi adquirida pela Remonta do Exército Português presidida pelo então Coronel José Carvalhosa em 1970, já a concursar em provas pequenas naquele país.Após curto período de aclimatação em Portugal, foi distribuída ao então Major Carlos Campos, em serviço no Centro Militar de Mafra, como montada de desporto para preparação e futura participação na modalidade de salto de obstáculos. A Ulla de Lancôme, com uma altura ao garrote de apenas 1.64m, apresentava bons andamentos, membros fortes e boa ligação do dorso com o rim e garupa, porém muito ardente e de controlo difícil pelo que foi necessário muito trabalho de ensino, exterior e ginástica de saltos.

Na primeira época de concursos hípicos em Portugal, com 7 anos, participou com regularidade em muitos concursos nacionais, com destaque para Mafra, Beja, Elvas e Espinho, onde foi vencedora de várias provas incluindo o GP de Espinho.

Fez a sua primeira participação internacional em Fontainebleau num concurso para equipas militares do CISM, (Concelho Internacional do Desporto Militar) e também em Cascais, Lisboa e Penina onde foi vencedora do GP e da Prova de Potência.De regresso a Mafra, depois de um período de trabalho lento, recomeçou a preparação com vista à época de 1972, a pensar na eventual integração na Equipa Nacional e participação nos Jogos Olímpicos.A preparação física da Ulla de Lancôme fez-se com bastante exigência, em trabalho bidiário, aproveitando as boas condições da Tapada de Mafra, que levaram a égua a uma boa forma e excelente técnica no salto, que lhe permitiam transpor qualquer tipo de obstáculo com sucesso.

Na época de 1972 fez parte da Equipa Nacional e participou nos concursos Internacionais de Pau, Nice, Roma e Madrid onde obteve uma dezena de classificações incluindo os GP’s e Taças das Nações.

Curiosamente em Roma onde participava a equipa francesa teve um Prémio atribuído ao melhor cavalo “Selle Français” do concurso.De regresso a Portugal continuou a preparação com vista aos J.O. fazendo apenas concursos de saltos com boas condições técnicas e bons pisos destacando-se em Peniche onde ganhou o GP e na Penina onde ficou 2º no GP e 1º no Campeonato de Salto em altura em que transpôs os 2 metros com facilidade.Face aos resultados obtidos e à boa prestação, especialmente em GP’s e Taças da Nações, foi seleccionada para a Equipa Nacional que fez estágio de preparação em Dinard e Rosier aux Salines (FRA) antes de seguir para os J.O. de
Munique em 1972 (GER).

O GP individual teve lugar no Hipódromo de Riem, em duas mãos diferentes com uma altura máxima de 1.60m e largura de 2.00m.Na primeira mão, sem hesitações, fez um excelente percurso com apenas 4 pontos. A 2ª mão, já na final para os 20 melhores conjuntos, apresentava mais dificuldades, terminou com 3 toques que lhe valeu o 13º lugar. O Coronel Carlos Campos bem se pode orgulhar desta sua prestação.

Na Taça das Nações, talvez por não ter recuperado bem deste difícil GP, teve uma actuação modesta. Nos anos de 1973 e 1974, foi montada pelo então Coronel Henrique Callado, que não foi muito feliz em virtude das claudicações frequentes que obrigaram a interromper o trabalho para ser submetida a uma operação.Nas épocas de 1975 e 1976, já recuperada da operação, voltou a ser atribuída ao Major Carlos Campos, regressado então duma comissão militar em África.Com o hipismo nacional a passar por uma crise, pós-revolução do 25 de Abril de 1974, “Ulla de Lancôme” volta a ser necessária à Equipa Nacional participando ainda nos Concursos Internacionais de Madrid e Barcelona onde se classificou várias vezes, apesar da sua condição física já não ser a melhor.Por curiosidade, de referir o facto de a “Ulla” ter feito parte das “Reprises” do Centro Militar de Mafra, normalmente constituídas por cavalos destinados à modalidade de “dressage”.

Retirada que foi das actividades desportivas, foi várias vezes coberta sem sucesso na Fonte Boa, tendo finalmente sido fecundada com sucesso por um cavalo Lusitano, de que resultou um poldro lazão, que infelizmente viveu poucos anos.

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