Lesões traumáticas dos membros do equino
Uma lesão que é referida como alcançadela (strike) é uma ferida num dos talões dianteiros e é causada pelo posterior ao embater no anterior do mesmo lado. Há lesões similares às alcançadelas ao nível dos tendões flexores.
Texto: Dr. Carlos Rosa Santos
Há também lesões na parte interna (medial) da canela, por baixo do carpo (joelho) ou curvilhão e que são originadas pelo casco do membro oposto.
Outras lesões do mesmo tipo aparecem na coroa e são provocadas pelo próprio cavalo quando este se pisa, muitas vezes durante o transporte. Estas lesões autoinfligidas variam desde escoriações triviais a processos incapacitantes pois podem danificar tecidos importantes da porção inferior dos membros e podem terminar com a carreira de um cavalo.
Actuação de emergência: avaliar o grau de claudicação
1) O cavalo pode ficar dorido com qualquer lesão mas uma claudicação permanente implica normalmente um problema mais sério. Aqui é necessário pedir a assistência de um médico veterinário.
2) Parar uma hemorragia – Se há um sangramento considerável deve-se promover a formação de um coágulo aplicando-se uma ligadura de compressão sobre a ferida depois da mesma ter sido limpa de sangue e detritos com uma compressa húmida. Por fim ligar a zona a proteger e aplicar uma compressa durante pelo menos 10 minutos.
3) Limpar a ferida – Com água fria a baixa pressão de uma mangueira é um bom método pois faz com que a dôr diminua e os vasos contraiam.
4) Avaliação dos danos – Não é muito comum uma pequena ferida causar uma claudicação pronunciada: se isto acontecer é provavelmente uma alcançadela ocorrida com o membro flectido em que pode haver danos no tecido subjacente e a alguma distância da zona da ferida.
Áreas perigosas
a) Feridas profundas na parte posterior da quartela podem envolver uma bainha tendinosa.
b) Feridas na coroa podem indicar lesão da primeira falange.
c) Feridas na parte posterior da canela podem significar lesão tendinosa.
Em qualquer destes casos e se o cavalo estiver muito queixoso, deve consultar um veterinário.
5) Tapar a ferida – Utilize um gel directamente sobre ela para iniciar a a sua reparação. De seguida esta deve ser protegida e tratada e o membro ligado até à chegada do médico veterinário.
Sumário – Com feridas do tipo das descritas anteriormente requisite sempre assistência veterinária se:
– A ferida sangrar profusamente
– O cavalo estiver muito manco mesmo que a ferida seja pequena
– Achar que a ferida precisa de ser suturada
– Suspeitar da existência de um corpo estranho
– Parecer-lhe que há uma articulação afectada
– O animal não estiver vacinado contra o tétano
Por vezes existe um corpo estranho numa ferida, que pode estar solto ou ser de difícil remoção e que obriga o veterinário a administrar sedativos e/ou analgésicos. Arames ou pedaços de madeira são os mais comuns. Alguns podem estar profundos e só conseguem ser detectados meses depois quando se verifica que a ferida não cicatriza.
Os mais fáceis de remover são os que se encontram encravados na palma do casco pois o animal ao assentar a mesma faz com que o objecto a penetre mais. Se o veterinário concordar, remova o objecto, marcando sempre o ponto de entrada e anotando os seguintes factores:
– O ponto exacto de entrada
– O ângulo de penetração e o comprimento de um arame, por exemplo, que tenha penetrado no interior do casco.
Penetrações superficiais no talão são as que causam menos problemas.
Particular atenção deve ser dada a perfurações no terço médio da palma pois podem ser atingidas uma ou mais das seguintes estruturas:
1) Osso navicular
2) O tendão flexor digital ou a articulação entre a primeira e segunda falange.
Objectos que penetram mais profundamente podem infectar e/ou fracturar a primeira falange.
Muitas vezes o uso de cataplasmas não é suficiente. Se a perfuração é maior do que 2 centímetros chamar o veterinário de imediato.
Na maioria das perfurações profundas são efectuados procedimentos radiológicos, por vezes necessitando da utilização de uma sonda ou de meios de contraste.
Se a bursa navicular é atingida deve ser aberta uma janela na palma para permitir o tratamento e a drenagem.
Por vezes é necessária a utilização de artroscopia, em que um pequeno telescópio é introduzido na bursa afim de se proceder à avaliação dos danos e sua reparação.
Mesmo com o uso de antibióticos de largo espectro o prognóstico nem sempre é favorável. Quanto mais depressa se iniciarem os procedimentos necessários maior são as hipóteses de uma recuperação com sucesso.
E para terminar, nunca negligenciar a utilização de caneleiras, protectores de boletos e cloches nem o facto de a vacina antitetânica ter de estar obrigatoriamente em dia. A do cavalo e a sua!