Osso – Não tão duro como isso…
Dr. Carlos Rosa Santos
Os ossos dos cavalos são normalmente considerados como estruturas muito duras, quase inquebráveis. No entanto a realidade diz-nos que o tecido ósseo em animais vivos é “plástico”, ou seja maleável. O exercício do animal provoca alterações nos muitos ossos que consitutem o esqueleto. Embora bastantes alterações (que se traduzem no fortalecimento ou na degenerescência do próprio tecido ósseo) sejam possíveis durante toda a vida dos animais as maiores ocorrem antes dos dois anos de idade. Este remodelar do osso faz-se naturalmente de uma forma ideal com a correcção dos aprumos nestas tenras idades. Se a remodelação óssea não for bem feita, a inutilização do animal a curto-médio prazo é a consequência mais frequente.A força de um osso é medida pelo seu modelo de elasticidade ou seja pela sua capacidade de se dobrar antes de quebrar. Como em qualquer estrutura, desde as asas dos aviões até às vigas dos edifícios, a elasticidade é responsável pela capacidade de aguentar forças de stress e de impacto. Materiais sem elasticidade partem ou desmoronam-se e os que são elásticos dobram e voltar à sua forma original. Nos ossos, ligamentos e tendões, uma substância chamada colagénio é responsável pela sua elasticidade.
As forças de impacto, compressão e torção actuam minuto a minuto sobre as massas ósseas dos cavalos, bem assim como nas nossas. Estas forças quando correctamente aplicadas fazem com que os ossos se mantenham fortes. Os primeiros astronautas, depois de passarem alguns dias no espaço, livres da força da gravidade, voltaram à terra com uma fragilidade óssea tal que não se lhes permitia que saíssem da cápsula sem ajuda.Os astronautas de hoje executam variados e rigorosos exercícios a bordo a fim de não perderem massa óssea. Esta perda da massa óssea deve-se ao facto do tecido ósseo quando não utilizado regularmente ser então absorvido pelo organismo, fragilizando esse mesmo tecido. Este facto originou um corolário da Lei de Wolf que diz “Usa-o para não o perderes”, em inglês “Use it or loose it”. Paragens mais ou menos prolongadas enfraquecem a estrutura óssea, obrigando a um retorno gradual de exercício.
Por outro lado, os ossos dos equinos utilizados diariamente sob forças iguais e correctas de stress e compressão, mantém-se com a mesma estrutura.
Aqueles que sofrem um aumento progressivo destas forças fortalecem-se cada vez mais, nos sítios certos. Os que sofre o efeito de forças desiguais e com variações drásticas de intensidade e pressão são os que vêm a causar problemas. Sobremãos, sobrecanas, e pequenas (mínimas) fracturas articulares e periarticulares são o resultado.No nosso país a utilização precoce e violenta de equinos imaturos, alguns já com problemas de aprumos mais ou menos graves e que não foram corrigidos nos primeiros anos de vida, é um dos factores principais que origina o seu desaparecimento desportivo aos cinco e seis anos.As cartilagens que separam os ossos entre si funcionam como um calo na mão de um trabalhador. Se no processo de desenvolvimento de um calo duro se exagera na produção do movimento que o origina, o calo rotura deixando exposto tecido sensível a sangrar. É exactamente deste modo que a doença degenerativa articular dos cavalos começa, bem assim como as sobremãos, pequenas fracturas, “chips” nos joelhos e boletos, sesamoidites, epifisites etc.A equitação correcta prolonga a vida útil dos cavalos. Para pensar…