Quando o que parece não é…
Dr. Carlos Rosa Santos
Imagine que decide vender o seu cavalo e que a pessoa interessada em comprá-lo pediu a um veterinário para lhe fazer um exame clínico.
Com um sorriso de satisfação o leitor assiste ao exame, junto do potencial comprador e tudo parece correr bem até que o veterinário inicia um teste de flexão no membro anterior. Levanta o membro, flecte-o ao nível do boleto durante cerca de 60 segundos e trota o cavalo.Para sua surpresa o seu cavalo trota com dificuldade o que o vai deixar muito embaraçado perante o comprador.Estes testes de flexão do membro anterior foram descritos na literatura sueca pela primeira vez em 1923.Tornaram-se parte integral dos exames clínicos em cavalos que claudicam, bem assim como nos exames periciais.
O leitor, porém, não tem que ficar preocupado só porque o seu cavalo não trotou bem depois de um teste deste tipo. Se o obrigarem a si a estar de cócoras durante 60 segundos e a correr logo a seguir, é possível que, em certos dias, não corra tão bem como noutros. Com os cavalos pode acontecer o mesmo.
Num recente Congresso Veterinário em Phoenix, Arizona (EUA) não se chegou a acordo sobre o tempo de duração dos testes pois apareceram recomendações diferentes que variavam entre 30 segundos e 3 minutos. Por outro lado, não é habitual medir-se a força de pressão que se exerce sobre a articulação, embora haja aparelhos que o possam fazer. Num estudo recente concluiu-se que os testes de flexão do membro anterior, ou do posterior, não podem ser utilizados por si só no diagnóstico de claudicações do membro. Este estudo revelou também que uma resposta positiva num exame destes tem normalmente uma má correlação com outros indicadores tais como os raios X.Foi do mesmo modo recordado que muitos cavalos não são comprados por não passarem estes testes em exames em actos de compra, o que á luz dos conhecimentos actuais não parece estar correcto. A resposta ao teste pode variar em grande escala pois depende de factores tais como a força aplicada, a duração do teste, a idade do cavalo, o momento do exame, a experiência e o bom senso do examinador.
Não é de admirar pois que cavaleiros e proprietários se tenham tornado cada vez mais cépticos sobre o significado destes exames. Com efeito, muitos cavalos têm óptimas performances nas várias modalidades mesmo quando não “passam” um teste de flexão do membro anterior.
Em 1998 e durante o Circuito del Sol em Espanha, um cavalo depois de testado por um veterinário francês (halterofilista?) além de claudicar depois do teste, esteve 3 dias quase sem apoiar o membro “testado” para grande fúria do seu proprietário, que garantia que o animal nunca tinha tido qualquer claudicação. E era verdade.Duas semanas depois, o mesmo cavalo foi examinado em Portugal e na Alemanha a pedido de outro possível comprador e passou todos os exames com distinção.Esse mesmo cavalo compete hoje internacionalmente sem quaisquer restrições.
O que parece por vezes não é…