Úlceras gástricas
Texto: Dr. Henrique Cruz
Um grupo de investigadores da Austrália e Reino Unido publicou recentemente um estudo em que avaliaram o efeito de três doses diferentes de omeprazole, utilizadas no tratamento da síndrome das úlceras gástricas nos equinos.O estômago dos equinos divide-se anatómica e fisiologicamente em duas partes: a parte escamosa da qual faz parte a entrada do esófago (cárdia) e a parte glandular onde localiza a ligação com o duodeno (piloro). Existe uma linha bem demarcada que separa estas duas zonas do estomago, denominada margus plicatus. O síndrome de úlceras gástricas nos equinos tem sido estudado exaustivamente desde o advento da utilização de endoscópios com comprimento suficiente para entrar no estômago do cavalo. Recentemente os investigadores têm observado que as úlceras gástricas têm características e comportamentos diferentes consoante se localizem na região escamosa ou glandular do estômago, considerando assim duas entidade clínicas.
O omeprazole é um medicamento utilizado frequentemente para o tratamento e prevenção de úlceras gástricas nos equinos. Um estudo anterior tinha sugerido que havia um efeito clínico dependente da dose de omeprazole utilizada. A dose de 4 mg/kg administrada pela via oral uma vez por dia revelou uma maior proporção de úlceras cicatrizadas em comparação com uma dose de 1.6 mg/kg. No entanto suspeita-se que dois fatores essenciais, nomeadamente a altura em que se administrou o medicamento e o efeito do jejum, possam ter resultado numa eficácia sub-óptima do omeprazole neste estudo. No mesmo estudo, notou-se tambem que a cicatrização de úlceras na região glandular do estômago era inferior à cicatrização na região escamosa do estômago.
Os investigadores abaixo referenciados tiveram como objectivo averiguar se a quantidade na dosagem de omeprazole tinha de facto efeito no tratamento de ulceração gástrica nos equinos em condições específicas que possam favorecer a eficácia do omeprazole, tais como a administração antes do exercício e após um jejum breve. Também quiseram saber se haveria diferenças entre o efeito nas úlceras glandulares e nas úlceras da região escamosa do estômago, com este regime de tratamento.O estudo incluiu 60 cavalos de raça puro-sangue inglês onde o síndroma de ulceração gástrica é prevalente. Todos os animais selecionados tinham úlceras na região glandular e/ou escamosa do estômago de grau igual ou superior a 2, numa escala de 0 a 4, diagnosticadas por gastroscopia. Os cavalos foram aleatoriamente distribuídos por três grupos, tendo recebido a dose de 1.0, 2.0 ou 4.0 mg/kg de omeprazole pela via oral uma vez por dia, uma a quatro horas antes do exercício físico, encontrando-se em jejum desde a noite anterior. O exame por gastroscopia foi repetido ao fim de 28 dias.
Verificou-se que as doses mais baixas de omeprazole (1.0 e 2.0 mg/kg) não foram inferiores à dose de referência (4.0 mg/kg) no tratamento de úlceras gástricas na região escamosa do estomago. De um modo geral, a cicatrização foi sempre melhor nas úlceras da região escamosa do que na região glandular do estômago. Estatisticamente era mais provável ocorrerem melhoras na região escamosa do que na região glandular. Além disso, observou-se deterioração no grau das úlceras glandulares em 36% dos casos.Os resultados deste estudo sugerem que doses de omeprazole tão baixas quanto 1 mg/kg (uma vez por dia por via oral) podem ser tão eficazes como doses mais altas, nas condições utilizadas por estes autores, em que o omeprazole foi administrado antes do exercício e após um breve período de jejum. A proporção de úlceras glandulares que cicatrizam ao fim de 28 dias de tratamento com omeprazole é inferior à das úlceras escamosas
Fonte: B. W. Sykes, K. M. Sykes and G. D. Hallowell (2014). A comparison of three doses of omeprazole in the treatment of equine gastric ulcer syndrome: A blinded, randomised, dose–response clinical trial. Equine Veterinary Journal ISSN 0425-1644 DOI: 10.1111/evj.122872014.12.17