Muitos de nós gostamos de pensar que os nossos cães são inteligentes quando referimos a sua capacidade de ler as nossas expressões faciais ou quando compreendem o que dizemos.
Mas alguns cães são verdadeiramente excecionais. Temos o exemplo de Chaser, uma border collie americano que foi apelidada de “cadela mais inteligente do mundo”, que conseguia reconhecer 1.022 substantivos – um para cada um dos seus brinquedos.
Na Alemanha, outro border collie, um cão chamado Rico, praticava “mapeamento rápido” – aprendia nomes de coisas novas com a velocidade e perspicácia de uma criança de três anos. Cerca de meia dúzia de outros border collie – bem como dois Yorkshire terriers, uma cadela no Brasil chamada Vicky Nina e um rafeiro americano chamado Bailey – também foram considerados igualmente talentosos.
Contudo, estes exemplos de génios caninos costumam ser sobre “apenas um cão”, diz Claudia Fugazza, etologista que estuda cognição canina na Universidade Eotvos Lorand de Budapeste. “Nunca houve um tamanho decente de amostras”, diz Claudia.
Dadas as circunstâncias, Claudia tentou resolver esta questão com os seus colegas do Family Dog Project da universidade de Budapeste e pediram aos donos de 34 cães de estimação de várias raças para ensinarem aos seus caninos os nomes de dois brinquedos separados.
Entre estes 34 animais, só uma cadela passou no teste – uma border collie chamada Oliva.
Os resultados “significam que o talento deve ser algo especial”, diz Claudia, autora principal de um novo estudo sobre esta experiência, publicado recentemente na Scientific Reports.
A origem do talento
Os cientistas recrutaram donos de cães do mundo inteiro através das redes sociais e, de seguida, pediram-lhes para brincar diariamente com os seus cães em casa, enquanto repetiam o nome de um brinquedo, um processo que durou três meses.
Uma vez por mês, com a presença de um cientista, os donos colocavam os seus cães à prova – os participantes no estudo incluíam cães adultos e crias – pedindo aos cães para irem buscar um de dois brinquedos pelo nome. Os cães que o conseguiam fazer recebiam um novo brinquedo e um novo nome para aprender.
Apesar dos treinos intensivos, só Oliva é que aprendeu a ligar uma palavra a um brinquedo – na verdade, aprendeu 21 nomes em dois meses, embora tenha morrido devido aos problemas de saúde dos quais sofria desde muito nova, antes de poder fazer mais testes.
“Nenhuma das raças aprendeu nada. Foi uma grande surpresa”, diz Claudia. Para verificar se o conceito do estudo tinha funcionado, os cientistas também testaram seis border collie que já conseguiam ir buscar alguns brinquedos pelo nome; conforme se esperava, todos estes cães de controlo aprenderam nomes adicionais.
É interessante que entre os 33 cães que falharam no teste, 18 também eram border collie, sublinha Claudia, mostrando que esta raça nem sempre tem um bom desempenho.
“Como este tipo de variação individual na inteligência também acontece nas pessoas, os cães podem fornecer informações sobre o que torna um animal dotado e talentoso.”
“Cerca de meia dúzia de pessoas talentosas mudaram o curso da história. Porque é que existem tão poucos Mozart e Einstein? Será a genética, o meio ambiente ou a prática? Acreditamos que os cães podem ser usados como um modelo para estudar a origem do talento”, diz Claudia.
Para explorar esta questão, os cientistas planeiam rastrear a genética e a história de um conjunto de raças de cães para tentar identificar os fatores que produzem as criaturas mais inteligentes.
Muitos investigadores acreditam que os border collie provavelmente estão tão sintonizados com a aprendizagem de nomes porque foram criados para pastorear ovelhas, algo que requer atenção especial aos assobios e dicas verbais dos pastores. (Descubra como os séculos de criação moldaram os cérebros dos cães.)
O que é excecional?
Outros cientistas recomendam cautela quando se tenta definir algo como altamente inteligente.
“Um cão pode ser excecional a aprender palavras e outro pode ser excecional a tirar comida dos caixotes do lixo”, diz Monique Udell, investigadora de cognição canina na Universidade Estadual do Oregon em Corvallis, que não esteve envolvida no estudo. “Mas, devido aos nossos preconceitos, podemos optar por rotular apenas o primeiro cão como excecional.”
O facto de que alguns indivíduos aprendem algumas coisas mais depressa, ou melhor, de forma diferente ou com mais aptidão do que outros, parece evidente.