Cerca de 400 garranos, criados em liberdade no monte de Santa Luzia, em Viana do Castelo, foram recolhidos para um terreno vedado a fim de se garantir segurança à passagem do Rali de Portugal pelo concelho, na sexta-feira.
O trabalho de recolha dos animais ficou concluído no domingo. Estão concentrados num terreno da Associação de Criadores de Garranos e Barrosã de Santa Luzia, em Santa Luzia”, explicou hoje à Lusa o presidente daquela estrutura, José Franco.
O presidente da Associação de Criadores de Garranos e Barrosã de Santa Luzia, com sede em Viana do Castelo, adiantou que “aquela medida de segurança, realizada desde que o Rali de Portugal voltou ao Norte, em 2015, tem o apoio da organização da prova”.
“Temos um acordo com a organização do rali que nos dá 60 rolos de palha para garantir a alimentação dos animais. Se não for suficiente a associação garante o resto”, adiantou.
O garrano é uma raça protegida, devido ao risco de extinção, encontrando-se por isso muito poucos no meio selvagem ou na posse de criadores. Este animal tem membros e orelhas curtas e o perfil da cabeça é reto ou côncavo.
Tem a sua origem no Ibérico pré-histórico de pequena estatura que era característico das regiões montanhosas do norte da Península Ibérica, sendo considerado por vezes um pónei.
José Franco adiantou que o terreno onde os animais se encontram está a ser vigiado pelos cerca de 50 criadores da associação para evitar “os ataques dos lobos que estão a colocar em causa a sobrevivência da espécie”.
“O lobo tem matado a maior parte das crias. Das seis crias que tive este ano apenas uma escapou ao ataque dos lobos”, lamentou José Franco, receando que durante o período em que estão recolhidos para a passagem do rali novos casos venham a ocorrer.
“Os lobos saltam a vedação, e os animais acabam por ser presas fáceis, sobretudo as crias. Temos sempre gente até às 23:00 mas não fácil garantir vigilância o tempo todo”.
Contactado pela agência Lusa, o secretário técnico da raça Garrano da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), José Leite, afirmou que “os ataques dos lobos são uma calamidade”.
Segundo José Leite, em Portugal existem atualmente 1.750 exemplares da raça, sendo que 1.500 estão inscritos no livro genealógico da raça garrana e apoiados pelas medidas agroambientais da União Europeia”.
“Os ataques dos lobos causam problemas graves à preservação da espécie. Se nada for feito para travar esta situação a raça vai ser extinta”, afirmou, explicando que, “com o fim dos apoios aos criadores pelos ataques dos lobos, a partir de 2020, a situação vai piorar”.
“Se acabarem os garranos os lobos deixam de ter caça, porque espécies como o coelho bravo ou a corça praticamente não existem. É preciso rever as leis. Infelizmente não somos ouvidos, nem técnicos, nem criadores”, sustentou.
A raça garrana foi alvo, em 2011, de uma candidatura a Património Nacional, ainda a aguardar aprovação, num processo coordenado pelo Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), que defende a necessidade de “preservação de recursos biológicos, valorização e divulgação da raça.
A candidatura tem como base o estudo e caracterização da população garrana e a sua envolvente social, ambiental, cultural e turística, além da promoção e divulgação, num processo que arrancou em 2009.
Desde 2008 foram conhecidos dezenas de casos de cavalos desta raça abatidos a tiros de caçadeira, alegadamente por agricultores revoltados com os estragos que a criação selvagem destes animais provoca nas culturas.