As corridas de cavalos estão entre as práticas desportivas mais antigas e fascinantes do mundo. Desde os tempos do Império Romano, quando as bigas eram uma das principais atrações, até aos modernos circuitos internacionais, este desporto alia velocidade, estratégia e a ligação especial entre o cavalo e o cavaleiro.
Contudo, a forma como os diferentes países lidam com esta modalidade varia significativamente, refletindo tradições culturais, regulamentações e até inovações, colocando o hipismo entre passado e presente, nomeadamente através de uma area cada vez mais popular, mas ainda proibida em Portugal: as apostas hípicas.
Inglaterra: o berço das corridas modernas
A Inglaterra é amplamente reconhecida como o berço das corridas de cavalos modernas. Quem assistiu à série Peaky Blinders sabe disso perfeitamente, visto que essa ficção assenta em vários feitos históricos. Para além desta famosa série que permitiu a muitos interessarem-se pelas apostas hípicas, vários eventos históricos como o Royal Ascot ou o Grand National são símbolos da cultura britânica que atraíram ao longo dos anos, tanto os aficionados da modalidade como membros da realeza britânica.
No Reino Unido, as apostas fazem parte da experiência das corridas. Legalizadas e reguladas desde o século XIX, são um componente importante para a sustentabilidade do desporto. As receitas provenientes das apostas são muitas vezes revertidas para o desenvolvimento das infraestruturas, o bem-estar dos cavalos e os prémios dos torneios. Esta ligação sólida entre corridas e apostas transformou o Reino Unido num exemplo de como a regulamentação equilibrada pode beneficiar ambas as partes.
Austrália: uma paixão nacional
Na Austrália, as corridas de cavalos são quase uma obsessão nacional. O Melbourne Cup, realizado anualmente em novembro, é conhecido como o “evento que pára a nação”. Tal como na Inglaterra, as apostas desempenham um papel crucial no financiamento do desporto.
Os australianos possuem uma cultura vibrante de apostas desportivas, e as corridas de cavalos estão entre as modalidades mais populares. As receitas geradas pelas apostas não só suportam o setor, como também contribuem para causas sociais e culturais. Contudo, o país também enfrenta desafios relacionados com o vício em jogos de azar, o que levou à implementação de medidas rigorosas para proteger os apostadores.
Portugal: uma tradição longe das apostas
Em Portugal, as corridas de cavalos, embora tenham raízes históricas, não possuem o mesmo protagonismo cultural que em países como a Inglaterra ou a Austrália, sendo que os eventos equestres mais populares pertencem à tauromaquia (touradas). Ainda assim, existem competições regionais e iniciativas para promover a modalidade, especialmente em eventos equestres que celebram a ligação entre homem e cavalo, como a Feira Nacional do Cavalo, na Golegã.
E essa diferença fica vincada na proibição de apostas hípicas no país. Apesar de serem permitidas apostas desportivas online e físicas em modalidades como futebol ou ténis, as corridas de cavalos permanecem fora do circuito legal. Esta limitação contrasta com o panorama internacional e pode ser vista como um fator que dificulta o crescimento do setor no país.
A ausência de apostas legais em corridas de cavalos em Portugal é justificada, em parte, pela preocupação com o controlo do jogo e o potencial impacto social negativo. Contudo, esta situação levanta questões sobre como financiar o desenvolvimento das corridas e atrair mais interesse público.
A Sportytrader, referência nas apostas desportivas online, lamenta mesmo essa proibição, mas não perde a esperança de um dia ver esse nicho ser finalmente legalizado em Portugal. Recorda ainda que as apostas desportivas apenas foram permitidas legalmente em Portugal em 2015, pelo que ainda se trata de uma indústria pouco madura.
O papel das apostas: tradição ou controvérsia?
As apostas desportivas nas corridas de cavalos não são apenas uma questão de entretenimento, mas também uma fonte vital de financiamento para o desporto, como vimos. Países como o Reino Unido e a Austrália mostram como um sistema regulado pode gerar benefícios económicos e culturais. Por outro lado, a ausência de apostas hípicas legais em Portugal reflete uma abordagem mais cautelosa, que prioriza o controlo social sobre o incentivo ao jogo.
O debate sobre a introdução de apostas em corridas de cavalos em Portugal persiste. Por um lado, a sua regulamentação poderia trazer novas fontes de receita para o setor, permitindo investimentos em eventos, infraestrutura e bem-estar animal. Por outro lado, seria necessário implementar sistemas rigorosos para evitar problemas como o vício em jogos de azar.
Este contraste ilustra como a regulamentação das apostas pode moldar o futuro de um desporto e os seus impactos socioeconómicos. Em última análise, a questão não é apenas se as apostas devem ser introduzidas, mas como podem ser geridas de forma responsável para beneficiar tanto o desporto como a sociedade.