A capacidade de provocar emoções e sensações no Homem é o maior capital do cavalo Lusitano.
Sente quem monta, ou simplesmente quem olha e capta a plasticidade do movimento em harmonia com a estética da tipicidade do animal.
É impossível ficar indiferente à expressão dos quadros da artista plástica Beatrice Bulteau, que materializa de forma magnífica a essência da expressão do nosso cavalo.
Recordo com saudade a plástica e sentimento que me transmitiam os Coimbras, filhos e netos do Quimono, quando entrava na cocheira do Manuel Coimbra, na Golegã de outros tempos. Era um sopro de finura e beleza!
O cavalo Lusitano está indelevelmente associado à tipicidade, finura, e invulgares características próprias que paulatinamente o têm vindo a restabelecer no firmamento do melhor cavalo de sela do Mundo.
Mas para isto não basta o talento natural do nosso cavalo, há que contar com o sentimento de criadores de inspiração e cavaleiros de eleição.
É um cavalo que foge como o Diabo da Cruz aos emparelhamentos matemáticos, e a muita da objetividade que caracteriza as raças do centro e norte da Europa. Quando a égua mais improvável dá o produto mais desejado, percebe-se alguma das particularidades desta nossa raça, onde a genética da funcionalidade e a sensibilidade de alguns criadores, se constituem enquanto critério mais fiável para a obtenção de animais úteis. Recorde-se a genialidade de criadores como o Dr. Ruy D’Andrade (1880-1967) ou o Eng.º Manuel Tavares Veiga (1863-1950), curiosamente ambos morreram com 87 anos.
Perceba-se que não existe utilidade para o que quer que seja, sem um animal com boa cabeça, manso como o chão, com uma dinâmica adequada à modalidade que estiver em questão, e fino quanto baste
Longe de um ambiente de anarquia e caos, e em rota contrária a alguns profetas de uma modernidade muito colada à imagem dos warmblood, quer de aspeto físico, toilette da crina, quer de andamentos, o Lusitano deve multiplicar-se dentro da tipicidade funcional inerente ao padrão da raça, e adaptada à modalidade ou atividade pretendida.
Há que estar esclarecido e lúcido, e ter sempre presente que: o trote não é o andamento por excelência da raça; cavalos a trotar à solta com a cauda em trompete, muito colada à imagem das arábias, é uma falácia de proveito para a venda, e um contributo de peso para a insatisfação a breve trecho; o criador deve ter capacidade autocrítica para perceber os defeitos e virtudes do seu efetivo, a par de lucidez para não deixar fugir virtudes e eliminar defeitos; quem olha para um cavalo Lusitano deve perceber de imediato que está perante um Lusitano; a conformação dos membros constitui o calcanhar de Aquiles da raça, pelo que deverá ser dada importância capital a esta questão; o custo dos procedimentos administrativos inerentes à APSL (inscrições no LA, LN, transferências de propriedade, etc.) são excessivamente pesados face à conjuntura económica e financeira que atualmente se vive.
Intimamente ligada à génese do Homem Ibérico, a tauromaquia constituiu-se como o tubo de ensaio da funcionalidade do Lusitano, muito colada à mobilidade em todos os sentidos, e predisposição para uma entrega que se pretende incondicional.
Mais uma vez a matéria-prima é de excelência! Mas esta excelência requer finura e saber equestre da parte de quem os monta, para transformar a generosidade do nosso cavalo, em entrega incondicional e total. Na atualidade, Pablo Hermoso de Mendoza, e mesmo Diego Ventura, conseguiram um aproveitamento total da capacidade do cavalo Lusitano, para um tipo de lide, que carrega uma plasticidade contagiante, capaz de agregar e fazer crescer o número de adeptos ao cavalo Lusitano. Os espanhóis devem ao cavalo Lusitano a elevação do rejoneio ao patamar do toureio a pé. O rejoneio deixou definitivamente de ser o parente pobre do toureio a pé.
No campo da Equitação de Alta Escola, constituiu Escola a equitação artística de fino recorte do genial mestre Nuno de Oliveira, que apesar de nos ter abandonado em 1989, elevou e deu expressão máxima ao potencial do cavalo Puro Sangue Lusitano, catapultando o cavalo Lusitano para os holofotes da cena equestre Internacional. A partir daí nada ficou como antes! Infelizmente os seus alunos também estão a partir, mas a mensagem de Oliveira perdurará, sempre colada à imagem do Lusitano.
A Equitação de Trabalho é outro campo onde o Lusitano coleciona títulos de Campeão Nacional e Mundial. Ao nível dos cavaleiros portugueses, Bento Castelhano foi pioneiro enquanto cavaleiro de referência, com inspiração e talento para tirar proveito das características que vieram a consagrar a excelência do nosso cavalo para a modalidade. Outros cavaleiros lhe seguiram a passada, como o caso de Pedro Torres, que se tornou por mérito um ícone com o super Oxidado.
Já dos seus alunos o destaque recai em Bruno Pica e no explosivo Nuno Avelar/Bogotá. Sempre com o cavalo Lusitano enquanto ferramenta na obtenção de títulos, esta modalidade alimenta muitos profissionais e favorece de sobremaneira o mercado do cavalo Lusitano.
Na modalidade da Dressage podemos agradecer à APSL o tiro de partida, viabilizado através do projeto que integrou a treinadora Martina Hanover. Neste momento, e per si, o nosso cavalo continua a derrubar barreiras e a pontuar cada vez mais. Desde a década de oitenta, em que o cavaleiro Olímpico Carlos Pinto participou nos jogos Olímpicos com o cavalo Ripado, até aos dias de hoje, registou-se uma evolução tremenda. Neste momento todos retemos a imagem de Gonçalo Carvalho nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, onde, com o seu Rubi, e curiosamente com Carlos Pinto enquanto seu treinador, conseguiu materializar num resultado histórico, o sonho de todos aqueles que vivem com grande intensidade a realidade do cavalo Lusitano. Os resultados dessa prestação são expressivos, e em crescendo falam por si: 71,520% Grande Prémio; 74,222% Grande Prémio Especial; 77,607% Grande Prémio Freestyle.
Foi uma emoção coletiva!