Um grupo de investigadores portugueses das faculdades de medicina veterinária de Lisboa e Coimbra e da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Santarém, publicou recentemente na revista Livestock Science os resultados de um estudo sobre a diversidade genética no cavalo Lusitano baseada na análise de pedigrees.
O estudo consistiu na análise das árvores genealógicas (pedigrees) de animais registados entre os anos de 1824 e 2009 com informação sobre um número total de 53411 cavalos. Os resultados revelaram que apesar de haver uma elevada incidência de consanguinidade dentro de algumas coudelarias, a taxa geral de consanguinidade na população foi de facto inferior à média estimada, talvez devido a restrições impostas pelos criadores no processo de seleção e escolha de reprodutores.
Foram descritos alguns dados estatísticos interessantes como o número total de cavalos registados no studbook da raça lusitana. Presentemente existem cerca de 5000 éguas registadas em todo o mundo, sendo que, cerca de metade encontram-se em Portugal. O studbook do cavalo puro-sangue lusitano foi instaurado em 1967, altura em que este cavalo começou a ser diferenciado do cavalo ibérico ou peninsular. No entanto muito antes desta diferenciação ter sido oficialmente estabelecida, os criadores tinham já critérios de seleção bem definidos. Enquanto o cavalo PRE era selecionado essencialmente pela sua beleza, conformação e andamentos, o cavalo lusitano era selecionado por aspetos funcionais principalmente no toureio e trabalho de campo.
Existem registos das arvores genealógicas desde meados do seculo 19 efetuados pela Coudelaria Nacional e vários criadores, permitiram aos autores deste estudo obter números significativos para analisar os resultados.
Um senso efetuado recentemente revelou que o número de coudelarias registadas rondava as 700 produzindo uma média de 2.18 ± 3 poldros por coudelaria no período entre 2005 e 2008, das quais apenas 303 coudelarias tinham mais de 2 poldros registados. Registam-se anualmente no studbook da pura raça lusitana cerca de 100 garanhões e 300 éguas, sendo que o número cumulativo de registos desde a criação do studbook em 1967 até 2008 era de 4562 garanhões e 11902 éguas.
Os efeitos negativos da consanguinidade nos cavalos estão bem estudados e incluem a diminuição da variabilidade genética e redução de algumas características físicas como o desempenho desportivo e reprodutivo e diminuição de algumas características morfológicas.
O estudo revelou que ao longo dos anos tem sido colocado um enfase intensivo em algumas linhas de garanhões populares o que levanta algumas preocupações sobre a conservação da diversidade genética no futuro. O número efectivo de fundadores, antepassados e coudelarias que contribuíram para o pool genético foi de 27.5, 11.7 e 5.4 respetivamente. Nos últimos 30 anos, as contribuições para o pool genético do cavalo lusitano têm vindo a diminuir. Isto aconteceu em grande parte devido ao facto de não ser permitido introduzir linhas genéticas de cavalos não registados como puro-sangue lusitano.
Os investigadores concluíram que é necessário desenvolver métodos destinados a minimizar a consanguinidade e maximizar a manutenção da contribuição genética de antepassados e fundadores diferentes da raça lusitana, de modo a prevenir perdas futuras na variabilidade genética desta raça.