Um cavalo de desporto caiu na sexta-feira dentro de um poço em Mouriscas desprovido de um resguardo ou de cobertura, tendo sofrido lesões que o tornam inapto para a competição. O cavalo de 9 anos foi salvo pelos bombeiros de Abrantes depois de ter estado mais de uma hora a nadar para se manter à tona de água. A dona do cavalo já apresentou queixa na GNR e vai processar os donos do terreno.
“O cavalo é de competição e estava no terreno da casa onde vivo, em Mouriscas, um terreno vedado, acompanhado de uma égua. Desconheço o motivo pelo qual o cavalo – de nome Dali – começou a correr desenfreado saltando a vedação e indo parar ao terreno ao lado, onde caiu a um poço. Quem deu o alerta foi a égua, que vinha relinchar ao pé de casa e corria para o pé do poço. Ia e vinha, aflita, até que fomos ver o que se passava e vimos o poço e o cavalo lá dentro”, contou Maria Júdice, estudante da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes (EPDRA), a frequentar o último ano do curso de Gestão Equina.
“O cavalo esteve a nadar no poço mais de 1 hora, em pânico. E o animal só não morreu por milagre. Os cavalos aguentam naquelas condições entre 15 a 20 minutos, e depois acabam por morrer de exaustão. Foi um esforço enorme que o animal fez e ficou com cortes no dorso, nos lábios e um joelho e uma pálpebra rebentados, de tanto se mandar contra as paredes do poço, tendo ficado inapto para a competição”, relatou a jovem estudante, de 18 anos.
Além dos prejuízos elevados com o animal, a queixa e o processo que assegura levantar aos donos do terreno devem-se ao facto do terreno ter “três poços, todos sem sinalização, cobertura ou resguardo. A estrada nacional passa ao lado do terreno e este não tem vedação nenhuma. O poço está a cerca de 10 metros da estrada. E se fosse uma criança a cair ali dentro? Como era?”, questiona.
Eram cerca das 20:15 de sexta-feira, dia 26, quando se dá o acidente com o cavalo. Às 20:52 os Bombeiros de Abrantes saem com os meios para o salvamento do animal, com a equipa de grande ângulo. Entretanto, no local, já estava um popular com um tractor e uma grua. Os Bombeiros iniciaram as manobras de salvamento, descendo ao poço com umas cintas que prenderam ao cavalo, tendo sido içado pela grua. A operação de resgate ficou concluída às 21:36. O Dali sai do poço em hipotermia e sem forças mas os populares que ali se juntaram, munidos de lanternas, cobertores e outros agasalhos, deram as primeiras ajudas a pôr o cavalo em pé e a aquece-lo, em articulação com os bombeiros.
“É extraordinário ver como em situações de perigo as pessoas ajudam e interagem como verdadeira comunidade. Eu acho que isso é de incentivar pois, efectivamente, numa situação de catástrofe são os populares os primeiros intervenientes”, destacou Maria Júdice.
“As pessoas foram espectaculares e os bombeiros também. Depois, toda a equipa do Centro Hípico de Vale de Ferreiros, de Pego, onde o Dali está agora a recuperar, e a veterinária, Margarida Gameiro, foram inexcedíveis. Aliás, o Vitor Pereira [proprietário do Centro Hípico] foi incansável nessa noite. Disponibilizou de imediato a box para o cavalo e toda a assistência necessária”, contou a dona do cavalo.
Contactada a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Abrantes (AHBVA), Gisela Oliveira, do gabinete de comunicação, lembrou o decreto-lei 310/2002, segundo o qual “é obrigatória a colocação de um resguardo ou a cobertura eficaz dos poços”. A competência de fiscalização pertence aos municípios e às forças policiais e, em caso de acidente com pessoas ou animais, os proprietários poderão responder civil e criminalmente”.
O animal em causa nesta ocorrência tem 9 anos, é um cavalo de desporto e com este acidente vai deixar de poder participar em competições.
Gisela Oliveira reforça o apelo, a bem da segurança de pessoas e/ou animais: “Em Portugal, com o abandono da agricultura e com a migração do campo para a cidade, os terrenos deixaram de ser cuidados, vão mudando de proprietários, passando de gerações para gerações. Muitas destas propriedades possuem poços não sinalizados, nem cobertos devidamente. É frequente assistir-se a situações como esta, que acabam, infelizmente, em tragédia”.
Fonte: Medio Tejo